Vitaminas
Vitaminas aumentam a imunidade? E para ganhar peso? Com certeza fazem o cabelo crescer.... Abaixo, selecionei trechos de dois livros sobre A História da Medicina para que vocês possam saber de onde surgiram estes mitos
Vitaminas
História da Medicina - Roy Porter
Um novo tipo de remédio chegou com a descoberta das vitaminas. Embora doenças por deficiência nutricional fossem conhecidas desde o trabalho de James Lind e outros, as identidades químicas diferentes das substâncias que causavam as doenças não foram descobertas até o século XX. O termo “vitamina” foi cunhado em 1912 por Casimir Funk, um químico do Instituto Lister em Londres. Sua pesquisa ajudou a clarear as funções distintas das vitaminas.
Quando Funk começou seu trabalho, estudos clínicos indicavam que certas doenças humanas eram causadas por deficiência de vitaminas específicas: por exemplo, o beribéri por falta de tiamina (vitamina B1); o escorbuto, cuja prevenção era conhecida há muito tempo pelo consumo de frutas cítricas, por falta de ácido ascórbico (vitamina C); e outras. Percebeu-se que onde houvesse a falta de uma determinada vitamina na dieta, o tratamento com aquela vitamina salvava a vida. Uma vez que isto tornou-se conhecido, não houve mais dúvidas de como tratar doenças por deficiências específicas.
Lamentavelmente, contudo, a superstição cresceu rápido sobre vitaminas, e elas prontamente adquiriram a reputação de mágicas cura-tudo. Os fabricantes foram rápidos ao explorar o mito. Médicos frustrados ficaram aliviados em indicá-las, e pacientes procurando por conforto foram (e são) levados a crer nelas. Evidências de novos benefícios extra do consumo de vitaminas são difíceis de se obter. Seus relatos são anedóticos pouco convincentes. Mas intoxicação por excesso, particularmente, das vitaminas lipossolúveis é bem conhecida: distúrbios nervosos e defeitos de nascimento são produzidos por excesso de vitamina A, e excesso de cálcio corporal e cálculos renais, depois de muita vitamina D. Mas as vitaminas continuam uma forma de terapia popular e fortemente divulgada, sem qualquer base racional. Elas são provavelmente mais compensadoras para os acionistas das companhias fabricantes do que para a maioria das pessoas que as consome.
Se as vitaminas são drogas, é um problema de uso da linguagem, que não necessita ser estendido. O termo vitamina, uma forma contraída, por engano, por Casimir Funk derivada de “vital-amina”, é errado, porque muitos fatores nutricionais acessórios não são aminas, e, se são vitais, significando essenciais para sobrevivência, diferem de espécie para espécie. Mas o nome veio para ficar.
O Tempero da Vida
A assustadora história da Medicina - Richard Gordon
Vitaminas são substâncias químicas caracteristicamente ausentes nos alimentos que usamos. Foram inventadas em Cambridge, em 1912, por Sir Frederick Gowland Hopkins (1861-1947). Os médicos mais antigos de Cambridge, como eu, lembram ainda da exclamação murmurada “É Hopkins!” — como Pasteur ou Lister — quando ele aparecia nos laboratórios de Bioquímica, entre os Colégios de Pembroke e Downing.
Hopkins descobriu que uma pequena gota de leite podia tornar perfeita a dieta que estava matando os ratos. Ele foi também o sogro póstumo de J. B. “Bons Companheiros” Priestley.
Em 1907 foi provocado o escorbuto em cobaias, na Noruega. Os cientistas da nutrição começavam a aprender que a alimentação humana não era exclusivamente constituída por proteínas, gordura, carboidratos e minerais, mas que misteriosamente era necessário algum aditivo. As cobaias de Hopkins tinham-se desenvolvido muito bem só tomando leite. Mas quando alimentadas com os elementos do leite, separados, elas morriam.
Em 1932 a vitamina C foi cristalizada por engano por Szent Györgi, na Hungria, depois na América, retirada do suco de limão como ácido ascórbico. Era uma substância química simples, que curava o escorbuto e identificava as confusões a respeito da doença: o limão era mais eficaz do que a lima porque era três vezes mais rico em vitamina C. Os oficiais, que se alimentavam melhor, deixavam o porto com maior quantidade de vitamina C armazenada no corpo. Toda a tripulação embarcava a primavera, ou seja, depois do inverno, quando comia menos vegetais. A vitamina C é fabricada nos organismos de todos os animais, exceto naquelas cobaias, no homem e nos macacos.
Em 1886, os holandeses preocupavam-se com o beribéri nas índias Orientais. Beribéri, em cingalês, significa “Eu não posso”, indicando a fraqueza dos músculos e das pernas inchadas que precedia a morte por insuficiência cardíaca. O médico do exército holandês, Christian Eijkman (1858-1930), pensava que o beribéri fosse uma infecção, até que a crise de 1897 o obrigou a alimentar as galinhas do laboratório com restos de comida do hospital e elas contraíram beribéri. Quando o arroz branco e polido dos curries e pudins era substituído pelo arroz escuro e não-polido, de gosto desagradável, elas melhoravam. Ele experimentou o arroz polido nas galinhas, complementando com gordura e sais minerais. Não adiantou. Tentou arroz polido e um extrato do polimento do arroz, e as galinhas logo voltaram a ciscar e a pôr ovos. Eijkman declarou, em 1901, que os itens conhecidos da dieta necessitavam de um “algo mais” desconhecido, em quantidades mínimas e sem valor nutritivo, para nos manter vivos. Mas ninguém deu muita atenção. Seu algo mais era a vitamina B do germe do arroz, que era retirado pelo polimento, saindo com a pele escura. Isso se tornou aparente só depois que Hopkins aplicou sua imaginação ao enigma. Tudo acabou bem, e em 1929 eles ganharam o prêmio Nobel.
As outras vitaminas foram identificadas e sintetizadas antes de 1940. A vitamina A no leite, na manteiga, nos ovos e no óleo do fígado de peixes prevenia certas formas de cegueira. A vitamina B é formada por várias vitaminas dos cereais e evita vários problemas graves da pele, pelagra (dermatite, diarréia e demência) e o beribéri das galinhas de Eijkman e também de 40% da marinha japonesa, entre 1878 e 1882. A vitamina D, que vem junto com a A, evita o raquitismo; a K, nos vegetais verdes, evita hemorragias. Ninguém sabe o que faz a vitamina E. Quando foi descoberta, em 1936, acreditaram que aumentava a fertilidade, e os idosos médicos de Cambridge cantaram em uníssono:
Vitamina E é para mim!
Vamos acabar com a esperança da velhice
Tomando-a com o nosso chá.
No nosso mundo de boas moradias, saudável e hedonista, a insuficiência de vitaminas atinge somente os decrépitos, que não podem ter uma dieta normal, e os seguidores das novas modas, que não querem comer normalmente. Essa parte triste da história de nossa dieta acontece predominantemente no Terceiro Mundo, descoberto relativamente há pouco tempo. É uma terra da qual sabemos vagamente que é repleta de florestas, onde chove sempre e nada cresce, onde nada há para fazer senão sexo, onde os nativos usam paletós xadrez rasgados e gravatas vistosas, enquanto assistem à televisão em branco e preto e ouvem discos de vinil nas suas cabanas, sentados em cadeiras de plástico ou deitados em almofadões, entre uma profusão de outros itens dos quais felizmente há muito tempo nos desfizemos. Só a deficiência da vitamina A, ou ceratomalacia, cega centenas de milhares de crianças todos os anos, mas ninguém faz muita coisa a respeito disso.
A vitamina C não cura resfriados, ferimentos na cabeça nem elimina os efeitos da bebida. A vitamina A não nos faz enxergar no escuro (desinformação da RAF, em 1940 — na verdade era o radar). Uma overdose de vitamina A ou D pode nos deixar doentes. Mas nenhuma vitamina pode nos tornar mais saudáveis. Elas não podem aumentar a inteligência dos nossos filhos. Como não são distribuídas de graça, são um desperdício pouco inteligente de dinheiro. Um primeiro-ministro inglês do nosso tempo toma um comprimido de vitamina C todas as manhãs.