Resfriado - Tratado de Pediatria

Capítulo 379

Resfriado Comum

E. Kathryn Miller
John V. Williams
O resfriado comum é uma infecção viral aguda do trato respiratório superior, na qual os sintomas de rinorreia e obstrução nasal são proeminentes. Os sinais e sintomas sistêmicos, como dor de cabeça, mialgia e febre, estão ausentes ou são leves. O resfriado comum é frequentemente chamado de rinite infecciosa, mas também pode incluir o envolvimento autolimitado da mucosa sinusal, sendo mais corretamente denominado rinossinusite.

Etiologia

Os patógenos mais frequentemente associados ao resfriado comum são os mais de 200 tipos de rinovírus humanos (Cap. 263), porém a síndrome pode ser causada por muitas famílias de diferentes vírus (Tabela 379-1). Os rinovírus estão associados a mais de 50% dos resfriados em adultos e crianças. Em crianças pequenas, outras etiologias virais do resfriado comum incluem o vírus sincicial respiratório (VSR; Cap. 260), o metapneumovírus humano (Cap. 261), os vírus parainfluenza (Cap. 259) e os adenovírus (Cap. 262). Os sintomas do resfriado comum também podem ser causados por vírus influenza, enterovírus não pólio e coronavírus humanos. Muitos vírus que causam rinite também estão associados a outros sinais e sintomas, como tosse, sibilância e febre.
Tabela 379-1
Patógenos Associados ao Resfriado Comum
ASSOCIAÇÃO PATÓGENO FREQUÊNCIA RELATIVA* OUTROS SINTOMAS E SINAIS COMUNS
Agentes principalmente associados ao resfriado comum Rinovírus humanos Frequente Sibilância/bronquiolite
Coronavírus Ocasional
Agentes principalmente associados a outras síndromes clínicas que também causam sintomas de resfriado comum Vírus sincicial respiratório Ocasional Bronquiolite em crianças com menos de 2 anos de idade
Metapneumovírus humano Ocasional Pneumonia e bronquiolite
Vírus influenza Incomum Gripe, pneumonia, diarreia
Vírus parainfluenza Incomum Diarreia, bronquiolite
Adenovírus Incomum Febre faringoconjuntival (conjuntivite palpebral, secreção ocular muito fluida, eritema faríngeo)
Enterovírus Incomum Herpangina (febre e pápulas ulceradas na orofaringe posterior)
Coxsackievirus A
Outro enterovírus não pólio Meningite asséptica
* Frequência relativa de resfriados causados pelo agente.

Epidemiologia

Resfriados ocorrem durante todo o ano, mas a incidência é maior a partir do início do outono até o final da primavera, refletindo uma prevalência sazonal dos patógenos virais associados aos sintomas de resfriado. No hemisfério Norte, a maior incidência de infecção pelo rinovírus ocorre no início do outono (agosto-outubro) e no final da primavera (abril-maio). A incidência sazonal para os vírus parainfluenza geralmente atinge seu pico no final do outono e no final da primavera e é mais elevada entre dezembro e abril para VSR, vírus influenza, metapneumovírus humano e coronavírus. Os adenovírus são detectados em uma baixa prevalência ao longo da estação fria, e os enterovírus também podem ser identificados nos meses de verão ou durante todo o ano.
As crianças pequenas têm uma média de seis a oito resfriados por ano, mas 10% a 15% das crianças apresentam pelo menos 12 infecções por ano. A incidência da doença diminui com a idade, com duas a três infecções por ano na idade adulta. A incidência de infecção ocorre principalmente em função da exposição ao vírus. Crianças em creches durante o primeiro ano de vida têm 50% mais resfriados do que aquelas cuidadas somente em casa. A diferença na incidência da doença entre os dois grupos de crianças diminui à medida que aumenta a quantidade de tempo que a criança fica na creche, embora a incidência da doença permaneça mais elevada no grupo que frequenta creche durante pelo menos os três primeiros anos de vida. Quando elas começam a escola primária, as crianças que frequentavam creches têm resfriados menos frequentes do que aquelas que não o fizeram. A deficiência da lectina de ligação à manose com o comprometimento da imunidade inata pode estar associada a um aumento da incidência de resfriados em crianças.

Patogênese

Os vírus que causam o resfriado comum são disseminados por três mecanismos: contato manual direto (autoinoculação da própria mucosa nasal e conjuntiva depois de tocar uma pessoa ou objeto contaminados), inalação de pequenas partículas aerossóis que estão no ar após a tosse ou deposição de partículas grandes de aerossóis que são expelidas durante um espirro e atingem a mucosa nasal ou conjuntiva. Apesar de os diferentes patógenos causadores do resfriado comum poderem se disseminar por qualquer um desses mecanismos, algumas vias de transmissão parecem ser mais eficientes do que outras para determinados vírus. Estudos com rinovírus e o VSR sugerem que o contato direto seja um mecanismo eficiente de transmissão destes vírus, embora a transmissão por partículas grandes de aerossóis também possa ocorrer. Em contrapartida, os vírus influenza e coronavírus parecem ser mais eficientemente dispersos por partículas pequenas de aerossóis.
Os vírus respiratórios desenvolveram diferentes mecanismos para evitar as defesas do hospedeiro. As infecções por rinovírus e adenovírus resultam no desenvolvimento de imunidade protetora sorotipo-específica. As infecções repetidas com estes agentes patogênicos ocorrem porque há um grande número de sorotipos diferentes para cada vírus. Os vírus influenza têm a capacidade de alterar os antígenos presentes na superfície do vírus e, assim, comportam-se como se houvesse múltiplos sorotipos virais. A interação dos coronavírus (Cap. 264) com a imunidade do hospedeiro não está bem definida, mas parece que múltiplas cepas distintas de coronavírus são capazes de induzir pelo menos uma imunidade protetora de curta duração. Existem quatro tipos de vírus parainfluenza e dois subgrupos antigênicos de VSR. Além da diversidade antigênica, muitos destes vírus são capazes de reinfectar as vias aéreas superiores devido à imunoglobulina A de mucosa induzida pela infecção anterior ser de curta duração, e o período de incubação breve destes vírus permite o estabelecimento da infecção antes das respostas imunes de memória. Embora a reinfecção não seja completamente evitada pela resposta adaptativa do hospedeiro a estes vírus, a gravidade da doença é moderada pela imunidade preexistente.
A infecção viral do epitélio nasal pode estar associada à destruição do revestimento epitelial, como acontece com os vírus influenza e adenovírus, ou pode não haver dano histológico aparente, como com rinovírus e VSR. Independentemente dos achados histopatológicos, a infecção do epitélio nasal está associada a uma resposta inflamatória aguda caracterizada pela liberação de uma variedade de citocinas inflamatórias e pela infiltração da mucosa por células inflamatórias. Esta resposta inflamatória aguda parece ser parcialmente ou em grande parte responsável por muitos dos sintomas associados ao resfriado comum. A excreção viral da maioria das viroses respiratórias atinge o ápice de 3 a 5 dias após a inoculação, muitas vezes coincidindo com o início dos sintomas; baixos níveis de excreção viral podem persistir por até 2 semanas no hospedeiro aparentemente saudável. A inflamação pode obstruir os óstios dos seios ou a tuba auditiva, predispondo à sinusite bacteriana ou à otite média.
O sistema imune do hospedeiro é responsável pela maioria dos sintomas do resfriado, em vez dos danos diretos ao trato respiratório. As células infectadas liberam citocinas, tais como a interleucina-8, que atraem as células polimorfonucleares na submucosa e no epitélio nasal. Os rinovírus também aumentam a permeabilidade vascular na submucosa nasal, liberando bradicinina e albumina, o que pode contribuir para os sintomas.

Manifestações clínicas

Os sintomas do resfriado comum podem variar com a idade e o vírus. Em lactentes, febre e rinorreia podem predominar. A febre é incomum em crianças mais velhas e adultos. O aparecimento de sintomas do resfriado comum ocorre normalmente de 1 a 3 dias após a infecção viral. Em geral, o primeiro sintoma observado é dor ou sensação de arranhado na garganta, seguido por obstrução nasal e coriza. A dor de garganta geralmente se resolve rapidamente e, pelo 2o ou 3o dia da doença, os sintomas nasais predominam. A tosse está associada a dois terços dos resfriados em crianças e, na maioria das vezes, inicia-se após o início dos sintomas nasais. A tosse pode persistir por 1 ou 2 semanas adicionais após a resolução dos outros sintomas. Os vírus influenza, VSR, metapneumovírus humanos e adenovírus são mais propensos do que os rinovírus ou coronavírus a estarem associados a febre e outros sintomas constitucionais. Outros sintomas de um resfriado podem incluir dor de cabeça, rouquidão, irritabilidade, dificuldade para dormir ou diminuição do apetite. Vômitos e diarreia são incomuns. O resfriado geralmente persiste por cerca de 1 semana, embora 10% perdurem por 2 semanas.
Os achados físicos do resfriado comum estão limitados ao trato respiratório superior. A secreção nasal aumentada é normalmente óbvia; é comum uma alteração na cor ou consistência das secreções durante o curso da doença e não indica sinusite ou superinfecção bacteriana, mas pode sugerir o acúmulo de células polimorfonucleares. O exame da cavidade nasal pode revelar cornetos nasais eritematosos e edemaciados, embora este achado não seja específico e tenha valor diagnóstico limitado. Pressão anormal do ouvido médio é comum durante o curso de um resfriado. Uma linfadenopatia cervical anterior ou hiperemia conjuntival também podem ser observadas no exame.

Diagnóstico

A tarefa mais importante do médico ao cuidar de um paciente com resfriado é a de excluir outras condições que são potencialmente mais graves ou tratáveis. O diagnóstico diferencial do resfriado comum inclui doenças não infecciosas, bem como outras infecções do trato respiratório superior (Tabela 379-2).
Tabela 379-2
Condições que Podem Mimetizar o Resfriado Comum
CONDIÇÃO CARACTERÍSTICAS DIFERENCIAIS
Rinite alérgica Prurido proeminente e espirros, eosinófilos nasais
Rinite vasomotora Pode ser desencadeada por agentes irritantes, mudanças climáticas, alimentos picantes etc.
Rinite medicamentosa Histórico de uso de descongestionante nasal
Corpo estranho
Unilateral, secreções de odor ruim
Secreções nasais hemorrágicas
Sinusite Presença de febre, dor de cabeça ou dor facial, ou edema periorbital ou persistência da rinorreia e tosse por mais de 14 dias
Estreptococose Coriza nasal mucopurulenta que fere as narinas
Coqueluche Aparecimento de tosse paroxística grave ou persistente
Sífilis congênita Rinorreia persistente com início nos primeiros 3 meses de vida

Achados laboratoriais

Exames laboratoriais de rotina não são úteis para o diagnóstico e tratamento do resfriado comum. Um esfregaço nasal para pesquisa de eosinófilos pode ser útil se houver a suspeita de rinite alérgica (Cap. 143). A predominância de polimorfonucleares nas secreções nasais é característica de resfriados sem complicações e não indica superinfecção bacteriana. Anomalias radiográficas autolimitadas dos seios paranasais são comuns durante um resfriado simples; o exame de imagem não é indicado para a maioria das crianças com rinite simples.
Os agentes patogênicos virais associados ao resfriado comum podem ser detectados por reação em cadeia da polimerase, cultura, detecção de antígenos ou métodos sorológicos. Estes estudos não são geralmente indicados em pacientes com resfriados, pois um diagnóstico etiológico específico só é útil quando o tratamento com um agente antiviral é contemplado, tal como para os vírus influenza. As culturas bacterianas ou a detecção de antígeno são úteis apenas quando há suspeita de estreptococos do grupo A (Cap. 183) ou Bordetella pertussis (Cap. 197). O isolamento de outros patógenos bacterianos a partir de amostras da nasofaringe não é uma indicação de infecção bacteriana nasal e não constitui um marcador específico do agente etiológico na sinusite.

Tratamento

O tratamento do resfriado comum consiste principalmente em cuidados de suporte e orientação preventiva, como recomendado pelas diretrizes da American Academy of Pediatrics e do United Kingdom National Institute for Health and Clinical Excellence.

Tratamento Antiviral

A terapia antiviral específica não está disponível para infecções por rinovírus. A ribavirina, que está aprovada para o tratamento de infecções graves por VSR, não tem eficácia no tratamento do resfriado comum. Os inibidores da neuraminidase, como o oseltamivir e o zanamivir, têm um efeito modesto sobre a duração dos sintomas associados a infecções por vírus influenza em crianças. O oseltamivir também reduz a frequência de otite média associada à influenza. A dificuldade em distinguir o vírus influenza de outros patógenos do resfriado comum e a necessidade de instituir a terapia no início da doença (dentro de 48 horas do início dos sintomas) para que seja benéfica são limitações práticas para a utilização destes agentes para infecções leves do trato respiratório superior. A terapêutica antibacteriana não apresenta benefício no tratamento do resfriado comum e deve ser evitada para minimizar os possíveis efeitos adversos e o desenvolvimento de resistência aos antibióticos.

Cuidados de Suporte e Tratamento Sintomático

Intervenções de suporte são frequentemente recomendadas pela equipe de saúde. Manter a hidratação oral adequada pode ajudar a fluidificar as secreções e aliviar a mucosa respiratória. O tratamento caseiro comum com ingestão de líquidos aquecidos pode aliviar a mucosa, aumentar o fluxo de muco nasal ou liberar as secreções respiratórias. O uso de soro fisiológico nasal tópico pode remover temporariamente as secreções, e a irrigação salina nasal pode reduzir os sintomas. Ar fresco, umidificado, não foi bem estudado, mas pode liberar as secreções nasais; no entanto, umidificadores e vaporizadores devem ser limpos após cada utilização. A Organização Mundial da Saúde sugere que vaporizadores, bem como a terapia com umidificadores não sejam utilizados no tratamento de um resfriado.
O uso de terapias orais sem receita médica (normalmente contendo anti-histamínicos, antitussígenos e descongestionantes) para os sintomas do resfriado em crianças é controverso. Embora alguns destes medicamentos sejam eficazes em adultos, nenhum estudo demonstra um efeito significativo nas crianças e pode haver efeitos colaterais graves. As crianças pequenas não conseguem cooperar na avaliação da gravidade dos sintomas, por isso os estudos destes tratamentos em crianças têm sido geralmente baseados em observações por parte dos pais ou de outros observadores, um método que é suscetível de ser insensível para a detecção dos efeitos do tratamento. Como resultado da falta de evidência direta para a eficácia e o potencial de efeitos colaterais indesejados, a American Academy of Pediatrics recomenda que produtos para tosse e resfriado sem prescrição não sejam utilizados em lactentes e mesmo em crianças com menos de 6 anos de idade. Uma decisão de utilizar esses medicamentos em crianças mais velhas deve considerar a probabilidade de benefício clínico em comparação aos potenciais efeitos adversos desses medicamentos. Os sintomas proeminentes ou mais incômodos dos resfriados variam no decorrer da doença. Se forem utilizados tratamentos sintomáticos, é razoável direcionar a terapia para sintomas específicos e deve-se tomar cuidado para assegurar que cuidadores compreendam o efeito a que se destinam e possam determinar a dosagem apropriada dos medicamentos.
O zinco, administrado como pastilhas orais a pacientes previamente saudáveis, reduz a duração, mas não a gravidade dos sintomas de um resfriado comum se iniciado no prazo de 24 horas dos sintomas. A função da protease 3C do rinovírus, uma enzima essencial para a replicação do rinovírus, é inibida pelo zinco, mas não houve nenhuma evidência de um efeito antiviral do zinco in vivo. O efeito do zinco nos sintomas tem sido inconsistente, com alguns estudos relatando efeitos dramáticos do tratamento (em adultos), enquanto outros estudos não encontram nenhum benefício. Os efeitos colaterais são comuns e incluem diminuição do paladar, paladar ruim e náuseas.

Febre

A febre não está normalmente associada a um resfriado comum simples, e o tratamento antipirético geralmente não é indicado.

Obstrução Nasal

Tanto agentes adrenérgicos tópicos quanto orais podem ser utilizados como descongestionantes nasais em crianças mais velhas e adultos. Os agentes adrenérgicos tópicos eficazes, como xilometazolina, oximetazolina ou fenilefrina, estão disponíveis como gotas intranasais ou sprays nasais. As formulações de menor potência desses medicamentos estão disponíveis para uso em crianças mais jovens, embora elas não sejam recomendadas para administração em crianças com menos de 6 anos de idade. A absorção sistêmica das imidazolinas (oximetazolina, xilometazolina) tem sido muito raramente associada a bradicardia, hipotensão e coma. A utilização prolongada de agentes adrenérgicos tópicos deve ser evitada para prevenir o desenvolvimento de rinite medicamentosa, um efeito rebote aparente que provoca a sensação de obstrução nasal quando o medicamento é interrompido. Os agentes adrenérgicos orais são menos eficazes do que as preparações tópicas e estão ocasionalmente associados a efeitos sistêmicos, tais como estimulação do sistema nervoso central, hipertensão e palpitações. Os vapores aromáticos (p. ex., mentol) para esfregar no esterno podem melhorar a sensação de permeabilidade nasal, mas não afetam a espirometria.
Gotas salinas nasais (lavagem, irrigação) podem melhorar os sintomas nasais e ser utilizadas em todos os grupos etários.

Rinorreia

Os anti-histamínicos de primeira geração podem reduzir rinorreia em 25% a 30%. O efeito dos anti-histamínicos na rinorreia parece estar relacionado com as propriedades anticolinérgicas destes medicamentos em vez das anti-histamínicas e, por conseguinte, os anti-histamínicos de segunda geração ou “não sedativos” não têm efeito sobre os sintomas do resfriado comum. Os principais efeitos adversos associados ao uso dos anti-histamínicos são sedação ou hiperatividade paradoxal. A superdosagem pode ser associada a depressão respiratória ou alucinações. Rinorreia também pode ser tratada com brometo de ipratrópio, um agente anticolinérgico tópico. Este medicamento produz um efeito comparável com os anti-histamínicos, mas não está associado à sedação. Os efeitos colaterais mais comuns do ipratrópio são irritação nasal e sangramento.

Dor de Garganta

A dor de garganta associada a resfriados geralmente não é grave, mas o tratamento com analgésicos moderados é ocasionalmente indicado, particularmente se estiver associada à mialgia ou dor de cabeça. O uso de acetaminofeno durante a infecção por rinovírus está associado à supressão de respostas de anticorpos neutralizantes, mas essa observação não tem significado clínico aparente. A aspirina não deve ser administrada a crianças com infecções respiratórias por causa do risco de síndrome de Reye em crianças com infecção por influenza (Cap. 361). Anti-inflamatórios não hormonais podem ser eficazes no alívio da dor causada por um resfriado, mas não há nenhuma evidência clara do seu efeito sobre os sintomas respiratórios. O balanço entre danos e benefícios deve ser considerado quando se utilizam anti-inflamatórios não hormonais para resfriados.

Tosse

A supressão da tosse geralmente não é necessária em pacientes com resfriados. A tosse em alguns pacientes parece ser decorrente da irritação do trato respiratório superior associada ao gotejamento pós-nasal. A tosse nestes pacientes é mais proeminente durante os período de maiores sintomas nasais, e o tratamento com um anti-histamínico de primeira geração pode ser útil. Pastilhas para a tosse podem ser temporariamente eficazes e é pouco provável que sejam nocivas a crianças para as quais não representem risco de aspiração (com idade superior a 6 anos). O mel (5-10 mL em crianças > 1 ano de idade) tem um efeito modesto para o alívio da tosse noturna e é pouco provável que seja prejudicial para crianças com mais de 1 ano de idade. O mel deve ser evitado em crianças com menos de 1 ano de idade por causa do risco de botulismo (Cap. 210).
Em alguns pacientes, a tosse pode ser resultado de uma doença reativa das vias aéreas induzida por vírus. Esses pacientes podem ter tosse que persiste por dias ou semanas após a doença aguda e podem se beneficiar de broncodilatadores ou outras terapias. A codeína ou o bromidrato de dextrometorfano não têm efeito sobre a tosse de resfriados e apresentam maior potencial de toxicidade. Expectorantes, como a guaifenesina, não são agentes antitussígenos eficazes. A combinação de cânfora, mentol e óleos de eucalipto pode aliviar a tosse noturna, mas os estudos de eficácia são limitados.

Tratamentos Ineficazes

A vitamina C, a guaifenesina e a inalação de ar quente umidificado não são mais eficazes do que o placebo para o tratamento de sintomas do resfriado.
A equinácea é uma erva de tratamento popular para o resfriado comum. Embora os extratos de equinácea tenham efeitos biológicos, a mesma não é eficaz como tratamento do resfriado comum. A falta de padronização de produtos comerciais contendo equinácea também representa um tremendo obstáculo para a avaliação racional do uso desta terapia.
Não há evidência de que o resfriado comum ou a rinite purulenta aguda persistente com menos de 10 dias de duração sejam beneficiados com o uso de antibióticos. De fato, há evidências de que os antibióticos causam efeitos adversos significativos quando administrados para rinite purulenta aguda.

Complicações

A complicação mais comum de um resfriado é a otite média aguda (OMA; Cap. 640), que pode ser evidenciada por febre de início recente e dor de ouvido após os primeiros dias de sintomas de resfriado. A OMA é relatada em 5% a 30% das crianças que têm um resfriado, com a maior incidência ocorrendo em lactentes jovens e crianças que frequentem creches. O tratamento sintomático não tem nenhum efeito sobre o desenvolvimento da OMA, mas o tratamento com o oseltamivir pode reduzir a incidência de otite média aguda em pacientes com gripe.
A sinusite é outra complicação do resfriado comum (Cap. 380). A inflamação autolimitada dos seios nasais é uma parte da fisiopatologia do resfriado comum, mas 0,5% a 2% das infecções virais do trato respiratório superior em adultos, e 5% a 13% em crianças, têm a sinusite bacteriana aguda como complicação. A diferenciação dos sintomas do resfriado comum e da sinusite bacteriana pode ser difícil. O diagnóstico de sinusite bacteriana deve ser considerado caso coriza e tosse diurna persistam sem melhora por pelo menos 10 a 14 dias, se os sintomas piorarem com o tempo, ou se houver sinais de envolvimento mais grave dos seios, tais como febre, dor facial ou desenvolvimento de edema facial. Não há evidência de que o tratamento sintomático do resfriado comum altere a frequência de desenvolvimento da sinusite bacteriana. A pneumonia bacteriana é uma complicação rara do resfriado comum.
A exacerbação da asma é uma complicação relativamente rara, mas potencialmente grave de resfriados. A maioria das exacerbações da asma em crianças está associada ao resfriado comum. Não há nenhuma evidência de que o tratamento dos sintomas do resfriado comum evite essa complicação; no entanto, estudos estão em andamento em pacientes com asma subjacente para determinar a eficácia do tratamento preventivo ou agudo no início dos sintomas da infecção do trato respiratório superior.
Apesar de não ser uma complicação, outra consequência importante do resfriado comum é o uso inadequado de antibióticos para estas doenças e a contribuição associada para o problema do aumento da resistência antibacteriana de bactérias patogênicas respiratórias, bem como os efeitos adversos dos antibióticos.

Prevenção

A quimioprofilaxia ou a imunoprofilaxia geralmente não estão disponíveis para o resfriado comum. A imunização ou a quimioprofilaxia contra influenza pode prevenir resfriados provocados por esses agentes; os vírus influenza são responsáveis por apenas uma pequena proporção de todos os resfriados. Palivizumabe é recomendado para prevenir a infecção respiratória inferior por VSR em recém-nascidos de alto risco, mas não impede infecções respiratórias superiores por este vírus. A vitamina C, o alho ou a equinácea não previnem o resfriado comum. A profilaxia com vitamina C pode reduzir a duração dos sintomas do resfriado. A deficiência de vitamina D está associada ao risco aumentado de infecção viral do trato respiratório em alguns estudos; no entanto, a profilaxia com vitamina D não diminui a incidência ou a gravidade do resfriado comum em adultos e estudos em crianças são escassos. O sulfato de zinco feito por um período mínimo de 5 meses pode reduzir a taxa de desenvolvimento de resfriados. No entanto, por causa da duração de utilização e efeitos adversos como náusea e paladar ruim, esta não é uma modalidade de prevenção recomendada para crianças.
A transmissão de mão para mão do rinovírus, seguida por autoinoculação, pode ser prevenida pela lavagem frequente das mãos e evitando que as mesmas toquem a boca, as narinas e os olhos. Alguns estudos relatam que o uso de desinfetantes para as mãos à base de álcool e tratamentos viricidas das mãos foram associados à redução da transmissão. No cenário experimental, desinfetantes viricidas ou tecidos impregnados com viricidas também reduzem a transmissão dos vírus causadores de resfriado; sob condições naturais, nenhuma destas intervenções impede os resfriados comuns.

Patogênese

Os vírus que causam o resfriado comum são disseminados por três mecanismos: contato manual direto (autoinoculação da própria mucosa nasal e conjuntiva depois de tocar uma pessoa ou objeto contaminados), inalação de pequenas partículas aerossóis que estão no ar após a tosse ou deposição de partículas grandes de aerossóis que são expelidas durante um espirro e atingem a mucosa nasal ou conjuntiva. Apesar de os diferentes patógenos causadores do resfriado comum poderem se disseminar por qualquer um desses mecanismos, algumas vias de transmissão parecem ser mais eficientes do que outras para determinados vírus. Estudos com rinovírus e o VSR sugerem que o contato direto seja um mecanismo eficiente de transmissão destes vírus, embora a transmissão por partículas grandes de aerossóis também possa ocorrer. Em contrapartida, os vírus influenza e coronavírus parecem ser mais eficientemente dispersos por partículas pequenas de aerossóis.
Os vírus respiratórios desenvolveram diferentes mecanismos para evitar as defesas do hospedeiro. As infecções por rinovírus e adenovírus resultam no desenvolvimento de imunidade protetora sorotipo-específica. As infecções repetidas com estes agentes patogênicos ocorrem porque há um grande número de sorotipos diferentes para cada vírus. Os vírus influenza têm a capacidade de alterar os antígenos presentes na superfície do vírus e, assim, comportam-se como se houvesse múltiplos sorotipos virais. A interação dos coronavírus (Cap. 264) com a imunidade do hospedeiro não está bem definida, mas parece que múltiplas cepas distintas de coronavírus são capazes de induzir pelo menos uma imunidade protetora de curta duração. Existem quatro tipos de vírus parainfluenza e dois subgrupos antigênicos de VSR. Além da diversidade antigênica, muitos destes vírus são capazes de reinfectar as vias aéreas superiores devido à imunoglobulina A de mucosa induzida pela infecção anterior ser de curta duração, e o período de incubação breve destes vírus permite o estabelecimento da infecção antes das respostas imunes de memória. Embora a reinfecção não seja completamente evitada pela resposta adaptativa do hospedeiro a estes vírus, a gravidade da doença é moderada pela imunidade preexistente.
A infecção viral do epitélio nasal pode estar associada à destruição do revestimento epitelial, como acontece com os vírus influenza e adenovírus, ou pode não haver dano histológico aparente, como com rinovírus e VSR. Independentemente dos achados histopatológicos, a infecção do epitélio nasal está associada a uma resposta inflamatória aguda caracterizada pela liberação de uma variedade de citocinas inflamatórias e pela infiltração da mucosa por células inflamatórias. Esta resposta inflamatória aguda parece ser parcialmente ou em grande parte responsável por muitos dos sintomas associados ao resfriado comum. A excreção viral da maioria das viroses respiratórias atinge o ápice de 3 a 5 dias após a inoculação, muitas vezes coincidindo com o início dos sintomas; baixos níveis de excreção viral podem persistir por até 2 semanas no hospedeiro aparentemente saudável. A inflamação pode obstruir os óstios dos seios ou a tuba auditiva, predispondo à sinusite bacteriana ou à otite média.
O sistema imune do hospedeiro é responsável pela maioria dos sintomas do resfriado, em vez dos danos diretos ao trato respiratório. As células infectadas liberam citocinas, tais como a interleucina-8, que atraem as células polimorfonucleares na submucosa e no epitélio nasal. Os rinovírus também aumentam a permeabilidade vascular na submucosa nasal, liberando bradicinina e albumina, o que pode contribuir para os sintomas.

Manifestações clínicas

Os sintomas do resfriado comum podem variar com a idade e o vírus. Em lactentes, febre e rinorreia podem predominar. A febre é incomum em crianças mais velhas e adultos. O aparecimento de sintomas do resfriado comum ocorre normalmente de 1 a 3 dias após a infecção viral. Em geral, o primeiro sintoma observado é dor ou sensação de arranhado na garganta, seguido por obstrução nasal e coriza. A dor de garganta geralmente se resolve rapidamente e, pelo 2o ou 3o dia da doença, os sintomas nasais predominam. A tosse está associada a dois terços dos resfriados em crianças e, na maioria das vezes, inicia-se após o início dos sintomas nasais. A tosse pode persistir por 1 ou 2 semanas adicionais após a resolução dos outros sintomas. Os vírus influenza, VSR, metapneumovírus humanos e adenovírus são mais propensos do que os rinovírus ou coronavírus a estarem associados a febre e outros sintomas constitucionais. Outros sintomas de um resfriado podem incluir dor de cabeça, rouquidão, irritabilidade, dificuldade para dormir ou diminuição do apetite. Vômitos e diarreia são incomuns. O resfriado geralmente persiste por cerca de 1 semana, embora 10% perdurem por 2 semanas.
Os achados físicos do resfriado comum estão limitados ao trato respiratório superior. A secreção nasal aumentada é normalmente óbvia; é comum uma alteração na cor ou consistência das secreções durante o curso da doença e não indica sinusite ou superinfecção bacteriana, mas pode sugerir o acúmulo de células polimorfonucleares. O exame da cavidade nasal pode revelar cornetos nasais eritematosos e edemaciados, embora este achado não seja específico e tenha valor diagnóstico limitado. Pressão anormal do ouvido médio é comum durante o curso de um resfriado. Uma linfadenopatia cervical anterior ou hiperemia conjuntival também podem ser observadas no exame.

Diagnóstico

A tarefa mais importante do médico ao cuidar de um paciente com resfriado é a de excluir outras condições que são potencialmente mais graves ou tratáveis. O diagnóstico diferencial do resfriado comum inclui doenças não infecciosas, bem como outras infecções do trato respiratório superior (Tabela 379-2).
Tabela 379-2
Condições que Podem Mimetizar o Resfriado Comum
CONDIÇÃO CARACTERÍSTICAS DIFERENCIAIS
Rinite alérgica Prurido proeminente e espirros, eosinófilos nasais
Rinite vasomotora Pode ser desencadeada por agentes irritantes, mudanças climáticas, alimentos picantes etc.
Rinite medicamentosa Histórico de uso de descongestionante nasal
Corpo estranho
Unilateral, secreções de odor ruim
Secreções nasais hemorrágicas
Sinusite Presença de febre, dor de cabeça ou dor facial, ou edema periorbital ou persistência da rinorreia e tosse por mais de 14 dias
Estreptococose Coriza nasal mucopurulenta que fere as narinas
Coqueluche Aparecimento de tosse paroxística grave ou persistente
Sífilis congênita Rinorreia persistente com início nos primeiros 3 meses de vida

Achados laboratoriais

Exames laboratoriais de rotina não são úteis para o diagnóstico e tratamento do resfriado comum. Um esfregaço nasal para pesquisa de eosinófilos pode ser útil se houver a suspeita de rinite alérgica (Cap. 143). A predominância de polimorfonucleares nas secreções nasais é característica de resfriados sem complicações e não indica superinfecção bacteriana. Anomalias radiográficas autolimitadas dos seios paranasais são comuns durante um resfriado simples; o exame de imagem não é indicado para a maioria das crianças com rinite simples.
Os agentes patogênicos virais associados ao resfriado comum podem ser detectados por reação em cadeia da polimerase, cultura, detecção de antígenos ou métodos sorológicos. Estes estudos não são geralmente indicados em pacientes com resfriados, pois um diagnóstico etiológico específico só é útil quando o tratamento com um agente antiviral é contemplado, tal como para os vírus influenza. As culturas bacterianas ou a detecção de antígeno são úteis apenas quando há suspeita de estreptococos do grupo A (Cap. 183) ou Bordetella pertussis (Cap. 197). O isolamento de outros patógenos bacterianos a partir de amostras da nasofaringe não é uma indicação de infecção bacteriana nasal e não constitui um marcador específico do agente etiológico na sinusite.

Tratamento

O tratamento do resfriado comum consiste principalmente em cuidados de suporte e orientação preventiva, como recomendado pelas diretrizes da American Academy of Pediatrics e do United Kingdom National Institute for Health and Clinical Excellence.

Tratamento Antiviral

A terapia antiviral específica não está disponível para infecções por rinovírus. A ribavirina, que está aprovada para o tratamento de infecções graves por VSR, não tem eficácia no tratamento do resfriado comum. Os inibidores da neuraminidase, como o oseltamivir e o zanamivir, têm um efeito modesto sobre a duração dos sintomas associados a infecções por vírus influenza em crianças. O oseltamivir também reduz a frequência de otite média associada à influenza. A dificuldade em distinguir o vírus influenza de outros patógenos do resfriado comum e a necessidade de instituir a terapia no início da doença (dentro de 48 horas do início dos sintomas) para que seja benéfica são limitações práticas para a utilização destes agentes para infecções leves do trato respiratório superior. A terapêutica antibacteriana não apresenta benefício no tratamento do resfriado comum e deve ser evitada para minimizar os possíveis efeitos adversos e o desenvolvimento de resistência aos antibióticos.

Cuidados de Suporte e Tratamento Sintomático

Intervenções de suporte são frequentemente recomendadas pela equipe de saúde. Manter a hidratação oral adequada pode ajudar a fluidificar as secreções e aliviar a mucosa respiratória. O tratamento caseiro comum com ingestão de líquidos aquecidos pode aliviar a mucosa, aumentar o fluxo de muco nasal ou liberar as secreções respiratórias. O uso de soro fisiológico nasal tópico pode remover temporariamente as secreções, e a irrigação salina nasal pode reduzir os sintomas. Ar fresco, umidificado, não foi bem estudado, mas pode liberar as secreções nasais; no entanto, umidificadores e vaporizadores devem ser limpos após cada utilização. A Organização Mundial da Saúde sugere que vaporizadores, bem como a terapia com umidificadores não sejam utilizados no tratamento de um resfriado.
O uso de terapias orais sem receita médica (normalmente contendo anti-histamínicos, antitussígenos e descongestionantes) para os sintomas do resfriado em crianças é controverso. Embora alguns destes medicamentos sejam eficazes em adultos, nenhum estudo demonstra um efeito significativo nas crianças e pode haver efeitos colaterais graves. As crianças pequenas não conseguem cooperar na avaliação da gravidade dos sintomas, por isso os estudos destes tratamentos em crianças têm sido geralmente baseados em observações por parte dos pais ou de outros observadores, um método que é suscetível de ser insensível para a detecção dos efeitos do tratamento. Como resultado da falta de evidência direta para a eficácia e o potencial de efeitos colaterais indesejados, a American Academy of Pediatrics recomenda que produtos para tosse e resfriado sem prescrição não sejam utilizados em lactentes e mesmo em crianças com menos de 6 anos de idade. Uma decisão de utilizar esses medicamentos em crianças mais velhas deve considerar a probabilidade de benefício clínico em comparação aos potenciais efeitos adversos desses medicamentos. Os sintomas proeminentes ou mais incômodos dos resfriados variam no decorrer da doença. Se forem utilizados tratamentos sintomáticos, é razoável direcionar a terapia para sintomas específicos e deve-se tomar cuidado para assegurar que cuidadores compreendam o efeito a que se destinam e possam determinar a dosagem apropriada dos medicamentos.
O zinco, administrado como pastilhas orais a pacientes previamente saudáveis, reduz a duração, mas não a gravidade dos sintomas de um resfriado comum se iniciado no prazo de 24 horas dos sintomas. A função da protease 3C do rinovírus, uma enzima essencial para a replicação do rinovírus, é inibida pelo zinco, mas não houve nenhuma evidência de um efeito antiviral do zinco in vivo. O efeito do zinco nos sintomas tem sido inconsistente, com alguns estudos relatando efeitos dramáticos do tratamento (em adultos), enquanto outros estudos não encontram nenhum benefício. Os efeitos colaterais são comuns e incluem diminuição do paladar, paladar ruim e náuseas.

Febre

A febre não está normalmente associada a um resfriado comum simples, e o tratamento antipirético geralmente não é indicado.

Obstrução Nasal

Tanto agentes adrenérgicos tópicos quanto orais podem ser utilizados como descongestionantes nasais em crianças mais velhas e adultos. Os agentes adrenérgicos tópicos eficazes, como xilometazolina, oximetazolina ou fenilefrina, estão disponíveis como gotas intranasais ou sprays nasais. As formulações de menor potência desses medicamentos estão disponíveis para uso em crianças mais jovens, embora elas não sejam recomendadas para administração em crianças com menos de 6 anos de idade. A absorção sistêmica das imidazolinas (oximetazolina, xilometazolina) tem sido muito raramente associada a bradicardia, hipotensão e coma. A utilização prolongada de agentes adrenérgicos tópicos deve ser evitada para prevenir o desenvolvimento de rinite medicamentosa, um efeito rebote aparente que provoca a sensação de obstrução nasal quando o medicamento é interrompido. Os agentes adrenérgicos orais são menos eficazes do que as preparações tópicas e estão ocasionalmente associados a efeitos sistêmicos, tais como estimulação do sistema nervoso central, hipertensão e palpitações. Os vapores aromáticos (p. ex., mentol) para esfregar no esterno podem melhorar a sensação de permeabilidade nasal, mas não afetam a espirometria.
Gotas salinas nasais (lavagem, irrigação) podem melhorar os sintomas nasais e ser utilizadas em todos os grupos etários.

Rinorreia

Os anti-histamínicos de primeira geração podem reduzir rinorreia em 25% a 30%. O efeito dos anti-histamínicos na rinorreia parece estar relacionado com as propriedades anticolinérgicas destes medicamentos em vez das anti-histamínicas e, por conseguinte, os anti-histamínicos de segunda geração ou “não sedativos” não têm efeito sobre os sintomas do resfriado comum. Os principais efeitos adversos associados ao uso dos anti-histamínicos são sedação ou hiperatividade paradoxal. A superdosagem pode ser associada a depressão respiratória ou alucinações. Rinorreia também pode ser tratada com brometo de ipratrópio, um agente anticolinérgico tópico. Este medicamento produz um efeito comparável com os anti-histamínicos, mas não está associado à sedação. Os efeitos colaterais mais comuns do ipratrópio são irritação nasal e sangramento.

Dor de Garganta

A dor de garganta associada a resfriados geralmente não é grave, mas o tratamento com analgésicos moderados é ocasionalmente indicado, particularmente se estiver associada à mialgia ou dor de cabeça. O uso de acetaminofeno durante a infecção por rinovírus está associado à supressão de respostas de anticorpos neutralizantes, mas essa observação não tem significado clínico aparente. A aspirina não deve ser administrada a crianças com infecções respiratórias por causa do risco de síndrome de Reye em crianças com infecção por influenza (Cap. 361). Anti-inflamatórios não hormonais podem ser eficazes no alívio da dor causada por um resfriado, mas não há nenhuma evidência clara do seu efeito sobre os sintomas respiratórios. O balanço entre danos e benefícios deve ser considerado quando se utilizam anti-inflamatórios não hormonais para resfriados.

Tosse

A supressão da tosse geralmente não é necessária em pacientes com resfriados. A tosse em alguns pacientes parece ser decorrente da irritação do trato respiratório superior associada ao gotejamento pós-nasal. A tosse nestes pacientes é mais proeminente durante os período de maiores sintomas nasais, e o tratamento com um anti-histamínico de primeira geração pode ser útil. Pastilhas para a tosse podem ser temporariamente eficazes e é pouco provável que sejam nocivas a crianças para as quais não representem risco de aspiração (com idade superior a 6 anos). O mel (5-10 mL em crianças > 1 ano de idade) tem um efeito modesto para o alívio da tosse noturna e é pouco provável que seja prejudicial para crianças com mais de 1 ano de idade. O mel deve ser evitado em crianças com menos de 1 ano de idade por causa do risco de botulismo (Cap. 210).
Em alguns pacientes, a tosse pode ser resultado de uma doença reativa das vias aéreas induzida por vírus. Esses pacientes podem ter tosse que persiste por dias ou semanas após a doença aguda e podem se beneficiar de broncodilatadores ou outras terapias. A codeína ou o bromidrato de dextrometorfano não têm efeito sobre a tosse de resfriados e apresentam maior potencial de toxicidade. Expectorantes, como a guaifenesina, não são agentes antitussígenos eficazes. A combinação de cânfora, mentol e óleos de eucalipto pode aliviar a tosse noturna, mas os estudos de eficácia são limitados.

Tratamentos Ineficazes

A vitamina C, a guaifenesina e a inalação de ar quente umidificado não são mais eficazes do que o placebo para o tratamento de sintomas do resfriado.
A equinácea é uma erva de tratamento popular para o resfriado comum. Embora os extratos de equinácea tenham efeitos biológicos, a mesma não é eficaz como tratamento do resfriado comum. A falta de padronização de produtos comerciais contendo equinácea também representa um tremendo obstáculo para a avaliação racional do uso desta terapia.
Não há evidência de que o resfriado comum ou a rinite purulenta aguda persistente com menos de 10 dias de duração sejam beneficiados com o uso de antibióticos. De fato, há evidências de que os antibióticos causam efeitos adversos significativos quando administrados para rinite purulenta aguda.

Complicações

A complicação mais comum de um resfriado é a otite média aguda (OMA; Cap. 640), que pode ser evidenciada por febre de início recente e dor de ouvido após os primeiros dias de sintomas de resfriado. A OMA é relatada em 5% a 30% das crianças que têm um resfriado, com a maior incidência ocorrendo em lactentes jovens e crianças que frequentem creches. O tratamento sintomático não tem nenhum efeito sobre o desenvolvimento da OMA, mas o tratamento com o oseltamivir pode reduzir a incidência de otite média aguda em pacientes com gripe.
A sinusite é outra complicação do resfriado comum (Cap. 380). A inflamação autolimitada dos seios nasais é uma parte da fisiopatologia do resfriado comum, mas 0,5% a 2% das infecções virais do trato respiratório superior em adultos, e 5% a 13% em crianças, têm a sinusite bacteriana aguda como complicação. A diferenciação dos sintomas do resfriado comum e da sinusite bacteriana pode ser difícil. O diagnóstico de sinusite bacteriana deve ser considerado caso coriza e tosse diurna persistam sem melhora por pelo menos 10 a 14 dias, se os sintomas piorarem com o tempo, ou se houver sinais de envolvimento mais grave dos seios, tais como febre, dor facial ou desenvolvimento de edema facial. Não há evidência de que o tratamento sintomático do resfriado comum altere a frequência de desenvolvimento da sinusite bacteriana. A pneumonia bacteriana é uma complicação rara do resfriado comum.
A exacerbação da asma é uma complicação relativamente rara, mas potencialmente grave de resfriados. A maioria das exacerbações da asma em crianças está associada ao resfriado comum. Não há nenhuma evidência de que o tratamento dos sintomas do resfriado comum evite essa complicação; no entanto, estudos estão em andamento em pacientes com asma subjacente para determinar a eficácia do tratamento preventivo ou agudo no início dos sintomas da infecção do trato respiratório superior.
Apesar de não ser uma complicação, outra consequência importante do resfriado comum é o uso inadequado de antibióticos para estas doenças e a contribuição associada para o problema do aumento da resistência antibacteriana de bactérias patogênicas respiratórias, bem como os efeitos adversos dos antibióticos.

Prevenção

A quimioprofilaxia ou a imunoprofilaxia geralmente não estão disponíveis para o resfriado comum. A imunização ou a quimioprofilaxia contra influenza pode prevenir resfriados provocados por esses agentes; os vírus influenza são responsáveis por apenas uma pequena proporção de todos os resfriados. Palivizumabe é recomendado para prevenir a infecção respiratória inferior por VSR em recém-nascidos de alto risco, mas não impede infecções respiratórias superiores por este vírus. A vitamina C, o alho ou a equinácea não previnem o resfriado comum. A profilaxia com vitamina C pode reduzir a duração dos sintomas do resfriado. A deficiência de vitamina D está associada ao risco aumentado de infecção viral do trato respiratório em alguns estudos; no entanto, a profilaxia com vitamina D não diminui a incidência ou a gravidade do resfriado comum em adultos e estudos em crianças são escassos. O sulfato de zinco feito por um período mínimo de 5 meses pode reduzir a taxa de desenvolvimento de resfriados. No entanto, por causa da duração de utilização e efeitos adversos como náusea e paladar ruim, esta não é uma modalidade de prevenção recomendada para crianças.
A transmissão de mão para mão do rinovírus, seguida por autoinoculação, pode ser prevenida pela lavagem frequente das mãos e evitando que as mesmas toquem a boca, as narinas e os olhos. Alguns estudos relatam que o uso de desinfetantes para as mãos à base de álcool e tratamentos viricidas das mãos foram associados à redução da transmissão. No cenário experimental, desinfetantes viricidas ou tecidos impregnados com viricidas também reduzem a transmissão dos vírus causadores de resfriado; sob condições naturais, nenhuma destas intervenções impede os resfriados comuns.

Manifestações clínicas

Os sintomas do resfriado comum podem variar com a idade e o vírus. Em lactentes, febre e rinorreia podem predominar. A febre é incomum em crianças mais velhas e adultos. O aparecimento de sintomas do resfriado comum ocorre normalmente de 1 a 3 dias após a infecção viral. Em geral, o primeiro sintoma observado é dor ou sensação de arranhado na garganta, seguido por obstrução nasal e coriza. A dor de garganta geralmente se resolve rapidamente e, pelo 2o ou 3o dia da doença, os sintomas nasais predominam. A tosse está associada a dois terços dos resfriados em crianças e, na maioria das vezes, inicia-se após o início dos sintomas nasais. A tosse pode persistir por 1 ou 2 semanas adicionais após a resolução dos outros sintomas. Os vírus influenza, VSR, metapneumovírus humanos e adenovírus são mais propensos do que os rinovírus ou coronavírus a estarem associados a febre e outros sintomas constitucionais. Outros sintomas de um resfriado podem incluir dor de cabeça, rouquidão, irritabilidade, dificuldade para dormir ou diminuição do apetite. Vômitos e diarreia são incomuns. O resfriado geralmente persiste por cerca de 1 semana, embora 10% perdurem por 2 semanas.
Os achados físicos do resfriado comum estão limitados ao trato respiratório superior. A secreção nasal aumentada é normalmente óbvia; é comum uma alteração na cor ou consistência das secreções durante o curso da doença e não indica sinusite ou superinfecção bacteriana, mas pode sugerir o acúmulo de células polimorfonucleares. O exame da cavidade nasal pode revelar cornetos nasais eritematosos e edemaciados, embora este achado não seja específico e tenha valor diagnóstico limitado. Pressão anormal do ouvido médio é comum durante o curso de um resfriado. Uma linfadenopatia cervical anterior ou hiperemia conjuntival também podem ser observadas no exame.

Diagnóstico

A tarefa mais importante do médico ao cuidar de um paciente com resfriado é a de excluir outras condições que são potencialmente mais graves ou tratáveis. O diagnóstico diferencial do resfriado comum inclui doenças não infecciosas, bem como outras infecções do trato respiratório superior (Tabela 379-2).
Tabela 379-2
Condições que Podem Mimetizar o Resfriado Comum
CONDIÇÃO CARACTERÍSTICAS DIFERENCIAIS
Rinite alérgica Prurido proeminente e espirros, eosinófilos nasais
Rinite vasomotora Pode ser desencadeada por agentes irritantes, mudanças climáticas, alimentos picantes etc.
Rinite medicamentosa Histórico de uso de descongestionante nasal
Corpo estranho
Unilateral, secreções de odor ruim
Secreções nasais hemorrágicas
Sinusite Presença de febre, dor de cabeça ou dor facial, ou edema periorbital ou persistência da rinorreia e tosse por mais de 14 dias
Estreptococose Coriza nasal mucopurulenta que fere as narinas
Coqueluche Aparecimento de tosse paroxística grave ou persistente
Sífilis congênita Rinorreia persistente com início nos primeiros 3 meses de vida

Achados laboratoriais

Exames laboratoriais de rotina não são úteis para o diagnóstico e tratamento do resfriado comum. Um esfregaço nasal para pesquisa de eosinófilos pode ser útil se houver a suspeita de rinite alérgica (Cap. 143). A predominância de polimorfonucleares nas secreções nasais é característica de resfriados sem complicações e não indica superinfecção bacteriana. Anomalias radiográficas autolimitadas dos seios paranasais são comuns durante um resfriado simples; o exame de imagem não é indicado para a maioria das crianças com rinite simples.
Os agentes patogênicos virais associados ao resfriado comum podem ser detectados por reação em cadeia da polimerase, cultura, detecção de antígenos ou métodos sorológicos. Estes estudos não são geralmente indicados em pacientes com resfriados, pois um diagnóstico etiológico específico só é útil quando o tratamento com um agente antiviral é contemplado, tal como para os vírus influenza. As culturas bacterianas ou a detecção de antígeno são úteis apenas quando há suspeita de estreptococos do grupo A (Cap. 183) ou Bordetella pertussis (Cap. 197). O isolamento de outros patógenos bacterianos a partir de amostras da nasofaringe não é uma indicação de infecção bacteriana nasal e não constitui um marcador específico do agente etiológico na sinusite.

Tratamento

O tratamento do resfriado comum consiste principalmente em cuidados de suporte e orientação preventiva, como recomendado pelas diretrizes da American Academy of Pediatrics e do United Kingdom National Institute for Health and Clinical Excellence.

Tratamento Antiviral

A terapia antiviral específica não está disponível para infecções por rinovírus. A ribavirina, que está aprovada para o tratamento de infecções graves por VSR, não tem eficácia no tratamento do resfriado comum. Os inibidores da neuraminidase, como o oseltamivir e o zanamivir, têm um efeito modesto sobre a duração dos sintomas associados a infecções por vírus influenza em crianças. O oseltamivir também reduz a frequência de otite média associada à influenza. A dificuldade em distinguir o vírus influenza de outros patógenos do resfriado comum e a necessidade de instituir a terapia no início da doença (dentro de 48 horas do início dos sintomas) para que seja benéfica são limitações práticas para a utilização destes agentes para infecções leves do trato respiratório superior. A terapêutica antibacteriana não apresenta benefício no tratamento do resfriado comum e deve ser evitada para minimizar os possíveis efeitos adversos e o desenvolvimento de resistência aos antibióticos.

Cuidados de Suporte e Tratamento Sintomático

Intervenções de suporte são frequentemente recomendadas pela equipe de saúde. Manter a hidratação oral adequada pode ajudar a fluidificar as secreções e aliviar a mucosa respiratória. O tratamento caseiro comum com ingestão de líquidos aquecidos pode aliviar a mucosa, aumentar o fluxo de muco nasal ou liberar as secreções respiratórias. O uso de soro fisiológico nasal tópico pode remover temporariamente as secreções, e a irrigação salina nasal pode reduzir os sintomas. Ar fresco, umidificado, não foi bem estudado, mas pode liberar as secreções nasais; no entanto, umidificadores e vaporizadores devem ser limpos após cada utilização. A Organização Mundial da Saúde sugere que vaporizadores, bem como a terapia com umidificadores não sejam utilizados no tratamento de um resfriado.
O uso de terapias orais sem receita médica (normalmente contendo anti-histamínicos, antitussígenos e descongestionantes) para os sintomas do resfriado em crianças é controverso. Embora alguns destes medicamentos sejam eficazes em adultos, nenhum estudo demonstra um efeito significativo nas crianças e pode haver efeitos colaterais graves. As crianças pequenas não conseguem cooperar na avaliação da gravidade dos sintomas, por isso os estudos destes tratamentos em crianças têm sido geralmente baseados em observações por parte dos pais ou de outros observadores, um método que é suscetível de ser insensível para a detecção dos efeitos do tratamento. Como resultado da falta de evidência direta para a eficácia e o potencial de efeitos colaterais indesejados, a American Academy of Pediatrics recomenda que produtos para tosse e resfriado sem prescrição não sejam utilizados em lactentes e mesmo em crianças com menos de 6 anos de idade. Uma decisão de utilizar esses medicamentos em crianças mais velhas deve considerar a probabilidade de benefício clínico em comparação aos potenciais efeitos adversos desses medicamentos. Os sintomas proeminentes ou mais incômodos dos resfriados variam no decorrer da doença. Se forem utilizados tratamentos sintomáticos, é razoável direcionar a terapia para sintomas específicos e deve-se tomar cuidado para assegurar que cuidadores compreendam o efeito a que se destinam e possam determinar a dosagem apropriada dos medicamentos.
O zinco, administrado como pastilhas orais a pacientes previamente saudáveis, reduz a duração, mas não a gravidade dos sintomas de um resfriado comum se iniciado no prazo de 24 horas dos sintomas. A função da protease 3C do rinovírus, uma enzima essencial para a replicação do rinovírus, é inibida pelo zinco, mas não houve nenhuma evidência de um efeito antiviral do zinco in vivo. O efeito do zinco nos sintomas tem sido inconsistente, com alguns estudos relatando efeitos dramáticos do tratamento (em adultos), enquanto outros estudos não encontram nenhum benefício. Os efeitos colaterais são comuns e incluem diminuição do paladar, paladar ruim e náuseas.

Febre

A febre não está normalmente associada a um resfriado comum simples, e o tratamento antipirético geralmente não é indicado.

Obstrução Nasal

Tanto agentes adrenérgicos tópicos quanto orais podem ser utilizados como descongestionantes nasais em crianças mais velhas e adultos. Os agentes adrenérgicos tópicos eficazes, como xilometazolina, oximetazolina ou fenilefrina, estão disponíveis como gotas intranasais ou sprays nasais. As formulações de menor potência desses medicamentos estão disponíveis para uso em crianças mais jovens, embora elas não sejam recomendadas para administração em crianças com menos de 6 anos de idade. A absorção sistêmica das imidazolinas (oximetazolina, xilometazolina) tem sido muito raramente associada a bradicardia, hipotensão e coma. A utilização prolongada de agentes adrenérgicos tópicos deve ser evitada para prevenir o desenvolvimento de rinite medicamentosa, um efeito rebote aparente que provoca a sensação de obstrução nasal quando o medicamento é interrompido. Os agentes adrenérgicos orais são menos eficazes do que as preparações tópicas e estão ocasionalmente associados a efeitos sistêmicos, tais como estimulação do sistema nervoso central, hipertensão e palpitações. Os vapores aromáticos (p. ex., mentol) para esfregar no esterno podem melhorar a sensação de permeabilidade nasal, mas não afetam a espirometria.
Gotas salinas nasais (lavagem, irrigação) podem melhorar os sintomas nasais e ser utilizadas em todos os grupos etários.

Rinorreia

Os anti-histamínicos de primeira geração podem reduzir rinorreia em 25% a 30%. O efeito dos anti-histamínicos na rinorreia parece estar relacionado com as propriedades anticolinérgicas destes medicamentos em vez das anti-histamínicas e, por conseguinte, os anti-histamínicos de segunda geração ou “não sedativos” não têm efeito sobre os sintomas do resfriado comum. Os principais efeitos adversos associados ao uso dos anti-histamínicos são sedação ou hiperatividade paradoxal. A superdosagem pode ser associada a depressão respiratória ou alucinações. Rinorreia também pode ser tratada com brometo de ipratrópio, um agente anticolinérgico tópico. Este medicamento produz um efeito comparável com os anti-histamínicos, mas não está associado à sedação. Os efeitos colaterais mais comuns do ipratrópio são irritação nasal e sangramento.

Dor de Garganta

A dor de garganta associada a resfriados geralmente não é grave, mas o tratamento com analgésicos moderados é ocasionalmente indicado, particularmente se estiver associada à mialgia ou dor de cabeça. O uso de acetaminofeno durante a infecção por rinovírus está associado à supressão de respostas de anticorpos neutralizantes, mas essa observação não tem significado clínico aparente. A aspirina não deve ser administrada a crianças com infecções respiratórias por causa do risco de síndrome de Reye em crianças com infecção por influenza (Cap. 361). Anti-inflamatórios não hormonais podem ser eficazes no alívio da dor causada por um resfriado, mas não há nenhuma evidência clara do seu efeito sobre os sintomas respiratórios. O balanço entre danos e benefícios deve ser considerado quando se utilizam anti-inflamatórios não hormonais para resfriados.

Tosse

A supressão da tosse geralmente não é necessária em pacientes com resfriados. A tosse em alguns pacientes parece ser decorrente da irritação do trato respiratório superior associada ao gotejamento pós-nasal. A tosse nestes pacientes é mais proeminente durante os período de maiores sintomas nasais, e o tratamento com um anti-histamínico de primeira geração pode ser útil. Pastilhas para a tosse podem ser temporariamente eficazes e é pouco provável que sejam nocivas a crianças para as quais não representem risco de aspiração (com idade superior a 6 anos). O mel (5-10 mL em crianças > 1 ano de idade) tem um efeito modesto para o alívio da tosse noturna e é pouco provável que seja prejudicial para crianças com mais de 1 ano de idade. O mel deve ser evitado em crianças com menos de 1 ano de idade por causa do risco de botulismo (Cap. 210).
Em alguns pacientes, a tosse pode ser resultado de uma doença reativa das vias aéreas induzida por vírus. Esses pacientes podem ter tosse que persiste por dias ou semanas após a doença aguda e podem se beneficiar de broncodilatadores ou outras terapias. A codeína ou o bromidrato de dextrometorfano não têm efeito sobre a tosse de resfriados e apresentam maior potencial de toxicidade. Expectorantes, como a guaifenesina, não são agentes antitussígenos eficazes. A combinação de cânfora, mentol e óleos de eucalipto pode aliviar a tosse noturna, mas os estudos de eficácia são limitados.

Tratamentos Ineficazes

A vitamina C, a guaifenesina e a inalação de ar quente umidificado não são mais eficazes do que o placebo para o tratamento de sintomas do resfriado.
A equinácea é uma erva de tratamento popular para o resfriado comum. Embora os extratos de equinácea tenham efeitos biológicos, a mesma não é eficaz como tratamento do resfriado comum. A falta de padronização de produtos comerciais contendo equinácea também representa um tremendo obstáculo para a avaliação racional do uso desta terapia.
Não há evidência de que o resfriado comum ou a rinite purulenta aguda persistente com menos de 10 dias de duração sejam beneficiados com o uso de antibióticos. De fato, há evidências de que os antibióticos causam efeitos adversos significativos quando administrados para rinite purulenta aguda.

Complicações

A complicação mais comum de um resfriado é a otite média aguda (OMA; Cap. 640), que pode ser evidenciada por febre de início recente e dor de ouvido após os primeiros dias de sintomas de resfriado. A OMA é relatada em 5% a 30% das crianças que têm um resfriado, com a maior incidência ocorrendo em lactentes jovens e crianças que frequentem creches. O tratamento sintomático não tem nenhum efeito sobre o desenvolvimento da OMA, mas o tratamento com o oseltamivir pode reduzir a incidência de otite média aguda em pacientes com gripe.
A sinusite é outra complicação do resfriado comum (Cap. 380). A inflamação autolimitada dos seios nasais é uma parte da fisiopatologia do resfriado comum, mas 0,5% a 2% das infecções virais do trato respiratório superior em adultos, e 5% a 13% em crianças, têm a sinusite bacteriana aguda como complicação. A diferenciação dos sintomas do resfriado comum e da sinusite bacteriana pode ser difícil. O diagnóstico de sinusite bacteriana deve ser considerado caso coriza e tosse diurna persistam sem melhora por pelo menos 10 a 14 dias, se os sintomas piorarem com o tempo, ou se houver sinais de envolvimento mais grave dos seios, tais como febre, dor facial ou desenvolvimento de edema facial. Não há evidência de que o tratamento sintomático do resfriado comum altere a frequência de desenvolvimento da sinusite bacteriana. A pneumonia bacteriana é uma complicação rara do resfriado comum.
A exacerbação da asma é uma complicação relativamente rara, mas potencialmente grave de resfriados. A maioria das exacerbações da asma em crianças está associada ao resfriado comum. Não há nenhuma evidência de que o tratamento dos sintomas do resfriado comum evite essa complicação; no entanto, estudos estão em andamento em pacientes com asma subjacente para determinar a eficácia do tratamento preventivo ou agudo no início dos sintomas da infecção do trato respiratório superior.
Apesar de não ser uma complicação, outra consequência importante do resfriado comum é o uso inadequado de antibióticos para estas doenças e a contribuição associada para o problema do aumento da resistência antibacteriana de bactérias patogênicas respiratórias, bem como os efeitos adversos dos antibióticos.

Prevenção

A quimioprofilaxia ou a imunoprofilaxia geralmente não estão disponíveis para o resfriado comum. A imunização ou a quimioprofilaxia contra influenza pode prevenir resfriados provocados por esses agentes; os vírus influenza são responsáveis por apenas uma pequena proporção de todos os resfriados. Palivizumabe é recomendado para prevenir a infecção respiratória inferior por VSR em recém-nascidos de alto risco, mas não impede infecções respiratórias superiores por este vírus. A vitamina C, o alho ou a equinácea não previnem o resfriado comum. A profilaxia com vitamina C pode reduzir a duração dos sintomas do resfriado. A deficiência de vitamina D está associada ao risco aumentado de infecção viral do trato respiratório em alguns estudos; no entanto, a profilaxia com vitamina D não diminui a incidência ou a gravidade do resfriado comum em adultos e estudos em crianças são escassos. O sulfato de zinco feito por um período mínimo de 5 meses pode reduzir a taxa de desenvolvimento de resfriados. No entanto, por causa da duração de utilização e efeitos adversos como náusea e paladar ruim, esta não é uma modalidade de prevenção recomendada para crianças.
A transmissão de mão para mão do rinovírus, seguida por autoinoculação, pode ser prevenida pela lavagem frequente das mãos e evitando que as mesmas toquem a boca, as narinas e os olhos. Alguns estudos relatam que o uso de desinfetantes para as mãos à base de álcool e tratamentos viricidas das mãos foram associados à redução da transmissão. No cenário experimental, desinfetantes viricidas ou tecidos impregnados com viricidas também reduzem a transmissão dos vírus causadores de resfriado; sob condições naturais, nenhuma destas intervenções impede os resfriados comuns.