Dormir, Talvez Chorar
Meu bebê já tinha quase duas semanas quando percebi que nunca mais descansaria na vida. Bem, talvez nunca fosse um exagero - eu tinha um restinho de esperança de, talvez quando ele já estivesse cursando a faculdade, conseguir dormir uma noite inteira novamente. Mas eu tinha certeza plena de que isso jamais aconteceria durante sua infância.
- Sandi Kahn Shelton, em Sleeping through the night and other lies
Sono Bom, Bebê Feliz
Nos primeiros dias de vida, os bebês mais dormem que qualquer outra coisa - alguns chegam a dormir 23 horas por dia durante a primeira semana! E isso é bom. E claro que o sono é importante para os seres humanos, mas, para o bebê, é absolutamente fundamental. Enquanto o bebê dorme, seu cérebro fica ocupado com a produção de novas células, necessárias para o desenvolvimento mental, físico e emocional. Na realidade, os bebês descansados sentem-se no mesmo estado que os adultos depois de uma boa noite de sono ou de uma soneca revigorante: alertas, concentrados e bem-humorados. Os bebês que dormem bem, comem bem, brincam bem, têm mais resistência e interagem melhor com as pessoas que estão a seu redor.
O bebê que não dorme bem não terá os recursos neurológicos necessários para o funcionamento eficiente do corpo. É provável que ele fique mal-humorado, descoordenado e não tenha energia suficiente para explorar o mundo. E, pior ainda, o cansaço excessivo compromete o sono, porque os maus hábitos de sono continuam por tempo indefinido. Alguns bebês ficam tão cansados que, não conseguem tranquilidade ou relaxamento físico e, por fim, caem no sono apenas quando estão totalmente exaustos. É muito triste ver um bebê tão excitado e perturbado a ponto de precisar gritar até cair no sono, a fim de se desligar do mundo. Ainda pior é que, quando finalmente dorme, seu sono é irregular e curto, às vezes dura menos de vinte minutos; por isso, ele acaba ficando mal-humorado praticamente o tempo todo.
Tudo isso parece bastante óbvio. O que muitas pessoas não percebem é que os bebês precisam da orientação dos pais para desenvolver hábitos adequados de sono. Na realidade, o motivo mais comum para os supostos problemas de sono é a falta de percepção dos pais para o fato de serem eles, e não o bebê, que devem controlar a hora de dormir.
O que torna a situação ainda mais confusa é a pressão social. A primeira pergunta que quase todo mundo faz para a mãe de um bebê novinho é: "Ele já dorme a noite inteira?". Se o bebê tem mais de 4 meses, a pergunta muda um pouco: "Ele dorme bem?". Porém, os pobres pais, que geralmente também não andam dormindo nada, costumam ter os mesmos sentimentos: culpa e tensão. Uma mãe, que escreveu em um Web site sobre maternidade, admitiu que, devido ao fato de tantos amigos terem perguntado se o filho dela acordava no meio da noite e com qual frequência, ela acabava passando a noite toda acordada para observar o padrão de sono do bebê.
Neste capítulo, quero partilhar com você minhas ideias sobre o sono dos bebês, muitas das quais podem contradizer o que você já leu ou ouviu em outros lugares. Eu a ajudarei a aprender como detectar a fadiga antes de ela se transformar em cansaço excessivo, e direi também o que você pode fazer se tiver perdido as preciosas oportunidades de agir após detectá-la. Eu a ensinarei a ajudar seu bebê a dormir e também mostrarei algumas formas de eliminar as dificuldades de sono antes que elas se tornem problemas intrincados e perpétuos.
Não Siga a Moda
Todo mundo tem uma opinião sobre qual é a melhor forma de fazer um bebê dormir e também sobre o que os pais devem fazer quando ele não dorme. Não explicarei aqui as opiniões em voga nas décadas anteriores, mas, enquanto estou escrevendo este livro, no ano 2000, há duas escolas de pensamento que estão chamando a atenção dos pais e da mídia.
Em uma dessas linhas de pensamento, estão aqueles que defendem a prática conhecida como sono compartilhado, cama familiar ou método de Sears. A última denominação faz referência ao dr. William Sears, pediatra californiano que popularizou a ideia de permitir que os bebês durmam na cama dos pais até que peçam uma cama própria. O raciocínio que sustenta essa ideia é que as crianças precisam desenvolver associações positivas com a hora de dormir (ponto com o qual concordo plenamente) e que o melhor caminho para isso é segurar, abraçar, acalentar e massagear o bebê até que ele durma (aqui, eu discordo absolutamente). Sears, o defensor mais entusiasta do método, declarou em 1998 para a revista Child: "Por que os pais iriam colocar seu filho em uma caixa cercada por barras, no meio de um quarto escuro, e deixá-lo sozinho?".
Outros que defendem a filosofia da cama familiar frequentemente citam práticas de culturas como a de Bali, onde não se permite que os bebês encostem no chão antes de completarem 3 meses de idade (bem, nós não estamos em Bali). A LaLeche League (associação norte-americana) sugere que, se o bebê teve um dia difícil, a mãe fique com ele na cama, dando-lhe o carinho e o contato extra de que precisa - tudo em nome da "ligação" e da "segurança". Essas pessoas não acham nada de errado no fato de os pais desistirem de seu tempo, sua privacidade e suas próprias necessidades de sono. E, para a viabilidade da prática, Pat Yearian - uma defensora da cama familiar citada no The womanly art of breastfeeding - sugere que os pais descontentes mudem sua perspectiva: "Se você ajustar sua atitude mental em relação ao fato de seu bebê acordá-lo a noite toda, será capaz de desfrutar aqueles momentos silenciosos da noite com um bebê que precisa ser abraçado e acalentado, ou então com a criança que apenas prefere ficar junto de alguém".
No outro extremo está o método da resposta adiada, mais conhecido como ferberização, em referência ao dr. Richard Ferber, diretor do Centro de Disfunções Infantis do Sono no Children's Hospital, em Boston. Sua teoria afirma que os maus hábitos de sono são aprendidos e que, portanto, podem ser desaprendidos (com o que concordo totalmente). Para isso, ele recomenda que os pais coloquem o bebê no berço enquanto ele ainda está acordado e o ensinem a dormir sozinho (eu ainda estou concordando). Quando chora e não consegue relaxar para dormir, o bebê na verdade está dizendo: "Venha e me tire daqui". Para esses momentos, Ferber sugere que você deixe o bebê chorando por Períodos cada vez mais longos - cinco minutos na primeira noite, dez na próxima, quinze, e assim por diante (é aqui que me separo do dr. Ferber). Ele é citado na revista Child' com a seguinte explicação: "Quando uma criança deseja brincar com algo perigoso, nós lhe negamos esse direito e estabelecemos limites que ela não deve ultrapassar [...] Ensinar que existem regras à noite é a mesma coisa. É melhor para a própria criança ter uma boa noite de sono".
Ambas as escolas de pensamento têm certos méritos. Os especialistas que as defendem são pessoas instruídas e bem-conceituadas. Compreensivelmente, os problemas de cada método são discutidos em debates frequentes e calorosos na imprensa. Por exemplo, no segundo semestre de 1999, quando a comissão norte-americana de proteção ao consumidor recomendou aos pais a não-adoção da técnica da cama familiar, argumentando que havia um alto risco de sufocamento ou estrangulamento "em dormir com o bebê ou colocá-lo para dormir na cama dos adultos", Peggy O'Mare, editora da revista Mothering, respondeu àquele alerta com um artigo arrebatador intitulado "Saia já do meu quarto!". Entre outras coisas, ela perguntava quem eram aqueles 64 casais que haviam supostamente rolado sobre seus bebês, sufocando-os. Eles estavam bêbados? Drogados? Do mesmo modo, quando a imprensa ou um especialista critica a estratégia da resposta adiada, dizendo que ela é insensível às necessidades dos bebês, quando não cruel, uma legião igualmente zelosa de pais dá o troco, insistindo que esse método salvou sua saúde e seu casamento e que, com ele, o bebê passou a dormir a noite toda.
Talvez você já se afine com um desses métodos. Se uma das práticas funciona para você, para seu bebê e para seu estilo de vida, então fique com ela. O problema é que as pessoas que me telefonam em busca de ajuda quase sempre já tentaram ambas sem obter resultado positivo. Uma situação típica é um dos pais, inicialmente atraído pela ideia da cama familiar, "vender" o conceito ao companheiro. Afinal, é uma noção romântica, em muitos aspectos semelhante ao estilo de vida antigo, quando o mundo era bem mais simples. Dormir com o bebê tem a conotação de simplicidade e naturalidade. Esse método também faz as mamadas do meio da noite parecerem mais fáceis. Animado, o casal decide não comprar um berço. Mas, depois de alguns meses, ou até antes, acaba a lua-de-mel. Mãe e pai, apavorados com a ideia de rolar sobre o bebê, não conseguem dormir, porque estão muito vigilantes ou então porque se tornaram extremamente sensíveis a qualquer ruído que o bebê faça durante a noite.
O bebê pode acordar a cada duas horas, contando com a presença de alguém para prestar atenção a ele. Algumas crianças apenas querem um tapinha amoroso ou um carinho para voltar a dormir; outras já acham que é hora de brincar. Os pais podem acabar fazendo turnos -uma noite na cama do casal, outra no quarto de hóspedes (para recuperar o sono perdido). Mas, para começo de conversa, se ambos não estão totalmente de acordo com a ideia, o mais cético já estará começando a ficar com raiva. Em geral, é nesse ponto que a ideia de Ferber torna-se mais tentadora.
Então, os pais compram o berço e decidem que agora é hora de o bebê ter sua própria cama. Bem, vamos pensar como tal mudança é monumental do ponto de vista do bebê: "Aqui estão mamãe e papai, que me deram as boas-vindas durante vários meses em sua cama, me abraçando, conversando comigo, fazendo tudo o que é necessário para me deixar feliz, e depois - bum! - no dia seguinte, sou banido, colocado no quarto do final do corredor, em um ambiente estranho em que me sinto completamente perdido... Eu não penso em cadeia nem tenho medo do escuro, porque essas coisas ainda não existem na minha mente de bebê, mas eu penso: onde foi todo mundo? Cadê aqueles corpos quentinhos que ficavam deitados do meu lado? Então eu choro, porque essa é minha forma de perguntar: ei, onde estão vocês? Então choro, choro e choro e ninguém vem me ajudar. Finalmente, eles aparecem. E dão uns tapinhas carinhosos nas minhas costas e dizem para eu ser um bom menino e voltar a dormir. Mas ninguém me ensinou ainda como eu faço para dormir sozinho. Eu sou apenas um bebê!".
O que quero dizer é que as práticas extremistas não funcionam para muitas pessoas, certamente não para aqueles casais que chegaram a precisar da minha ajuda. Portanto eu prefiro, desde o começo, seguir o caminho do meio: a abordagem do bom senso, à qual chamo de sono sensível.
O Que é Sono Sensível?
O sono sensível é uma proposta anti-extremista. Você verá que minha filosofia incorpora aspectos de ambas as escolas de pensamento aqui apresentadas, mas eu acredito que a teoria de deixar o bebê chorando menospreza a sensibilidade e as necessidades da criança, enquanto a teoria da cama familiar faz o mesmo em relação aos pais. O sono sensível, em contraste, é um método direcionado à família, que respeita as necessidades de todos. Na minha visão, os bebês precisam aprender a dormir sozinhos; e também precisam se sentir seguros no berço, devendo ser confortados quando estão angustiados. O primeiro objetivo que descrevi acima nunca poderá ser alcançado se você não se lembrar do segundo. Por um lado, os pais precisam de repouso adequado, de momentos de privacidade (sozinhos ou com o companheiro) e de uma vida que não seja concentrada no bebê o tempo todo. Por outro lado, os pais também devem dedicar tempo, energia e cuidados ao bebê. E os dois grupos de objetivos não são contraditórios. Para chegar a eles, lembre-se dos conselhos que se seguem - os fundamentos do sono sensível. Por todo o capítulo, enquanto explico como lidar com o S do E.A.S.Y., você verá como cada um dos princípios se concretiza em realidade.
Comece da forma que deseja manter. Se você for inicialmente atraída pela noção de compartilhar sua cama, pense bem. E assim que você deseja que as coisas estejam daqui a três meses? Seis meses? Mais tempo? Lembre-se que tudo o que você faz ensina o bebê. Portanto, quando você o colona cama e o aninha no peito ou o acalenta durante quarenta minutos, na realidade você está ensinando a ele um comportamento; você está dizendo: "É assim que se dorme". Se você começar por esse caminho, então é melhor ficar preparada para acalentar seu filho por muito, muito tempo.
Independência não é negligência. Quando falo aos pais de bebê de 1 dia de vida: "Nós temos de ajudá-lo a se tornar independente", eles muitas vezes me olham perplexos. "Independente? Ele nasceu há algumas horas, Tracy!" Então eu respondo: "Bem, e quando vocês acham que deveria começar?". Essa é, na verdade, uma pergunta a qual ninguém pode responder, nem mesmo os cientistas, porque não sabemos o momento preciso em que os bebês começam a compreender o mundo ou o momento em que desenvolvem as capacidades de que precisam para lidar com o ambiente. Portanto, eu insisto: "Comece já!". Estimular a independência, no entanto, não significa deixar o bebê chorando por um tempo indefinido. Significa satisfazer suas necessidades, incluindo pegá-lo no colo quando chora, porque, afinal de contas, ele está tentando dizer algo a você; mas também significa colocá-lo de volta no berço assim que sua necessidade seja eliminada.
Observe sem intervir. Você se lembra do conselho que dei quando abordava as atividades do bebê? O mesmo se aplica ao sono. Os bebês passam por um ciclo previsível a cada período de sono (veja a página 201). Os pais precisam entender isso, para não se precipitarem. Em vez de interromper o fluxo natural do bebê, precisamos fazer uma pausa e esperar que ele adormeça sozinho.
Não torne o bebê dependente de acessórios. Um acessório é qualquer objeto ou intervenção que, quando retirado, causa angústia no bebê. Não podemos esperar que o bebê seja capaz de dormir sozinho se o treinamos a acreditar que o peito do papai, um passeio de trinta minutos ou o seio da mamãe sempre estarão ali para acalmá-lo. Como já disse anteriormente, sou a favor das chupetas, mas não quando elas são usadas para silenciar a criança. Por um lado, é falta de respeito enfiar a chupeta ou o seio na boca do bebê para fazê-lo calar. Por outro, quando tomamos esse tipo de atitude ou andamos com o bebê no colo, acalentando-o interminavelmente - tudo com a finalidade de fazê-lo adormecer - na verdade estamos tornando o bebê dependente desses acessórios e eliminando as oportunidades de ele desenvolver estratégias de auto-relaxamento e de autonomia.
A propósito, o acessório é diferente de um objeto provisório, como um bicho de pelúcia ou um cobertor que o seu bebê adota e ao qual torna-se muito ligado. A maioria dos bebês não adquire esse costume antes dos 7 ou 8 meses - antes dessa época, as "ligações" são geralmente reservadas aos pais. Obviamente, se o bebê obtiver conforto com o brinquedo favorito, coloque esse brinquedo no berço. Mas eu sou contra os adultos oferecerem o objeto de conforto: permita que o bebê descubra, sozinho, a forma de se acalmar.
Desenvolva rituais para a hora de dormir e de tirar sonecas. Todos os dias, você deve cumprir o mesmo ritual. Como já enfatizei ao longo dos capítulos anteriores, os seres humanos são cheios de hábitos. Os bebês também gostam de saber o que vem em seguida. As pesquisas mostram que até mesmo os bebês muito novos quando condicionados a determinado estímulo são capazes de prever a ocorrência que se segue a ele.
Saiba como seu bebê costuma adormecer. Uma das principais desvantagens de qualquer "receita" para auxiliar uma criança a adormecer é que nada funciona do mesmo modo para todas as crianças. Portanto, embora eu ofereça muitas orientações para os pais, - entre elas, os três estágios previsíveis de sono pelos quais os bebês passam antes de finalmente adormecer (veja o quadro ao lado) - recomendo que antes os pais conheçam seu bebê.
A melhor maneira de conhecer esse aspecto do bebê é fazer um diário do sono dele. Começando pela manhã, anote a hora em que ele acorda e registe todos os horários de soneca que tira durante o dia; anote a hora em que ele adormece e a hora em que acorda no meio da noite. Faça isso durante quatro dias - um período longo o suficiente para fornecer indicações dos padrões de sono do bebê, mesmo que suas sonecas pareçam irregulares.
Marcy, por exemplo, tinha certeza de que não conseguiria registrar os padrões diurnos do sono de Dylan, seu filho de 8 meses: "Ele nunca tira sonecas no mesmo horário, Tracy". Mas depois de quatro dias fazendo o diário, essa mãe percebeu que, embora os horários variassem um pouco Dylan sempre tirava uma soneca curta entre as 9 e as 10 horas da manhã outra de quarenta minutos entre o meio-dia e as 2 horas, e ficava muito mal-humorado às 5, horário no qual costumava dormir por vinte minutos. Conhecer esses fatos ajudou Marcy a planejar seu dia e, igualmente importante, permitiu a compreensão dos humores do pequeno Dylan. Ela se tornou capaz de usar o biorritmo do bebê para estruturar o dia dele, de modo que lhe garantisse um descanso adequado. Sempre que Dylan ficava inquieto, Marcy já sabia que ele estava pronto para dormir.
A Estrada de Tijolos Amarelos Que Conduz ao Mundo dos Sonhos
Você se lembra de O Mágico de Oz? A personagem central, Dorothy, caminha por uma estrada de tijolos amarelos a fim de encontrar alguém que lhe mostre o caminho de volta para casa. No final, depois de vários problemas e momentos assustadores, Dorothy encontra sua sabedoria interior. Basicamente, eu auxilio os pais a fazerem o mesmo, orientando-os à consciência de questão eles que estabelecem os bons hábitos de sono de seu filho. O sono é um processo aprendido, iniciado e reforçado pelos pais. Por essa razão, os pais precisam ensinar o bebê a dormir, e é para isso que elaborei "a estrada que conduz ao sono sensível".
Pavimente a estrada. Aceitando o fato de que os bebês prosperam com a previsibilidade e aprendem com a repetição, sempre fazemos e dizemos as mesmas coisas antes da soneca ou da hora de dormir, de modo que eles pensem: "Oh, isso significa que agora vou dormir". Pratique mesmo ritual, na mesma ordem. Diga: "Vamos lá, querido, agora vamos dormir" ou "Está na hora da cama". Enquanto leva o bebê para o quarto, seja silenciosa e fale baixo. Antes, verifique se é preciso trocar a fralda, pois ele deve estar bem confortável. Feche a persiana ou a cortina, escurecendo o ambiente. Eu geralmente digo: "Tchau, Dona Luz! Eu a vejo depois da minha soneca". Seja é noite, digo: "Boa noite, Dona Lua!". Não acho que os bebês devam adormecer na sala de visitas ou na cozinha - isso é falta de respeito. Você gostaria que sua cama ficasse no meio de uma loja de departamentos, com centenas de pessoas se movimentando a seu redor? Certamente não, nem seu bebê.
Preste atenção à sinalização do caminho. Assim como os adultos, os bebês bocejam quando começam a ficar cansados. Os seres humanos bocejam porque, quando fatigado, o corpo já não funciona com tanta "eficiência": o suprimento normal de oxigênio aos pulmões, ao coração e ao sistema sanguíneo diminui um pouco. O bocejo é a maneira que o corpo encontra de ingerir oxigênio extra (forçando um bocejo, você notará que a atividade exige respiração profunda). Eu sugiro aos pais que comecem a agir a partir do primeiro bocejo do bebê; se não for possível, pelo menos a partir do terceiro. Quando esses sinais passam despercebidos (veja o quadro seguinte), certos tipos de bebê, por exemplo os Sensíveis, rapidamente entram em crise.
DICA: Enfatize o benefício do repouso, criando um clima propício. Não apresente o sono como uma punição ou uma convocação para a guerra. Se você disser a seu filho: "Agora você vai tirar uma soneca" ou 'Você tem de descansar agora", em um tom que parece dizer: "Você está sendo enviado para o front" ele acabará pensando que dormir significa perder toda a diversão que está acontecendo na casa.
Os Sinais do Sono
Assim como o adulto, o bebê boceja e perde a capacidade de concentração quando está cansado. Durante o processo de crescimento, seu corpo se modifica e encontra novas formas de avisar que está pronto para dormir.
Quando o bebê conquista o controle da cabeça: Quando fica com sono, o bebê afasta o rosto dos objetos e das pessoas, como se estivesse tentando bloquear o mundo. Se estiver no colo, enterra o rosto no seu peito. Ele faz movimentos involuntários, sacudindo os braços e as pernas.
Quando o bebê conquista o controle dos membros: O bebê cansado esfrega os olhos, puxa as orelhas ou arranha o próprio rosto.
Quando o bebê começa a conquistar a mobilidade: O bebê cansado perde a coordenação e o interesse pelos brinquedos. Se estiver no colo, arqueia as costas e inclina o corpo para trás. No berço, ele se acomoda em um dos cantos e encaixa a cabeça ali ou, então, rola para um lado e fica parado, porque não sabe rolar de volta.
Quando o bebê já consegue engatinhar e/ou andar: A coordenação é o primeiro aspecto a desaparecer quando o bebê está cansado. Se tenta ficar em pé, ele cai; se estiver andando, tropeça ou bate nas coisas. Ele já adquiriu total controle sobre o corpo; por isso, prende-se a um adulto que está tentando colocá-lo no chão. Ele fica em pé no berço, mas depois não consegue sentar-se, a menos que caia, o que frequentemente acontece.
Promova o relaxamento quando o bebê estiver próximo do destino final. Os adultos gostam de ler ou de assistir à televisão antes de ir para a cama, para descansar a mente das atividades do dia. O bebê também precisa de relaxamento. Antes de dormir, o banho e, se ele tiver mais de 3 meses, a massagem o ajudam a se preparar para um bom sono. Até mesmo na hora de uma soneca diurna, toco uma canção de ninar. Durante cerca de cinco minutos, fico sentada com o bebê na cadeira de balanço ou no chão, para dar a ele um aconchego extra. Você também pode contar uma história se ele gostar, ou então murmurar palavras doces no ouvido dele. A finalidade, no entanto, é acalmar o bebê, e não fazê-lo adormecer. Por isso, eu paro tudo o que estou fazendo quando capto aquele "olhar de sete milhas" (o Estágio 2) ou quando os olhos do bebê começam a se fechar, o que significa que ele já está entrando no Estágio 3. (Nunca é cedo demais para começar a contar histórias na hora de dormir, mas geralmente eu não introduzo os livros antes dos 6 meses, quando os bebês conseguem se concentrar melhor e já ficam sentados.)
DICA: Não convide ninguém para ir à sua casa na hora de colocar o bebê na cama. Isso não é justo. O bebê quer fazer parte da diversão. Ele vê seus amigos e sabe que eles estão fazendo uma visita: "Hummm... Rostos diferentes para eu olhar, gente diferente sorrindo para mim. O quê? Mamãe e papai acham que eu vou perder tudo isso indo dormir? Podem apostar que não".
Coloque o bebê no berço antes que ele chegue ao mundo dos sonhos. Muitas pessoas acham que não se deve colocar o bebê no berço antes de ele adormecer. É uma ideia equivocada. Colocar o bebê no berço no início do Estágio 3 é a melhor forma de ajudá-lo a desenvolver as capacidades de que precisa para dormir sozinho. Também existe outro motivo: o bebê adormecer nos braços de um adulto ou na cadeira de balanço depois acordar no berço é o mesmo que você ser empurrado em sua cama para o jardim enquanto está dormindo. Você acorda e pergunta desorientado: "Onde estou? Como cheguei aqui?". O mesmo sentimento -e desorientação acomete os bebês, com a diferença de que eles não podem pensar: "Ah, alguém deve ter me colocado aqui enquanto eu dormia"; em vez disso, sentem-se perdidos e assustados. O resultado é que não se sentirão confortáveis e seguros no berço.
Quando coloco o bebê no berço, sempre digo as mesmas palavras: "Agora, estou colocando você no berço para dormir. Você sabe que irá se sentir muito melhor depois do sono". Eu o observo de perto. Às vezes ele fica um pouco irrequieto antes de relaxar, especialmente quando está no meio do Estágio 3. Os pais tendem a se precipitar nesse ponto. Alguns bebês se acalmam naturalmente, mas, se ele chorar nesse estágio, tapinhas suaves e rítmicos nas costas induzirão à compreensão de que não está sozinho ou abandonado. Mas interrompa os tapinhas assim que ele se acalmar; se você continuar por mais tempo que o necessário, o bebê começará a associar os tapinhas com o ato de adormecer e, pior ainda, precisará deles antes de dormir.
DICA: Eu geralmente sugiro que o bebê seja colocado no berço deitado de costas. No entanto, você também pode colocá-lo deitado de lado, apoiando-o em duas toalhas enroladas ou em travesseiros de rolo. Se seu bebê dorme de lado, certifique-se, para o conforto dele, de que não está dormindo todos os dias sobre o mesmo lado do corpo.
Quando a estrada para o mundo dos sonhos é um pouco tortuosa, use uma chupeta para ajudar. Eu gosto de recomendar a chupeta durante os primeiros três meses - o período em que começamos a estabelecer as rotinas. O recurso permite que a mãe não se transforme em uma chupeta humana". Ao mesmo tempo, sempre recomendo o uso limitado da chupeta, de modo que ela não se transforme em um "acessório". Quando usada corretamente, o bebê a chupa com força por cerca de seis ou sete minutos e depois começa a relaxar, quando então, normalmente, a cospe para longe. O afastamento da chupeta ocorre porque o bebê já expeli energia de sucção que precisava ser liberada e agora já está no caminho certo para o mundo dos sonhos. Nesse ponto, sempre há algum adulto bem-intencionado ("Ah, coitadinho do bebê, ele cuspiu a chupeta-que tenta colocar a chupeta de volta na boca do bebê. Não o permita! Se precisar da chupeta para continuar dormindo, o bebê mostrará a necessidade fazendo ruídos e contorcendo o corpo.
Bom e Mau Uso da Chupeta: A História de Quincy
Existe uma linha muito tênue entre o bom e o mau uso da chupeta. Quando o bebê tem 6 ou 7 semanas de idade e não cospe automaticamente a chupeta depois de adormecer, os país podem retirá-la. Quando um bebê de 3 meses ou mais acorda chorando pela ausência da chupeta, eu interpreto o fato como sinal de mau uso, o que me faz lembrar a história do pequeno Quincy, de 6 meses de idade. Os pais de Quincy telefonaram para mim porque ele ficava acordando no meio da noite, e apenas a chupeta o acalmava. Ao investigar mais, confirmei minha suspeita: quando Quincy cuspia a chupeta naturalmente, os pais a colocavam de volta em sua boca. É claro que ele ficou dependente da sensação que a chupeta proporcionava; sua ausência começou a perturbar o sono dele. Eu expliquei aos pais o meu plano: tirem a chupeta dele. Naquela noite, quando Quincy começou a chorar por causa da chupeta, eu apliquei pancadinhas suaves em suas costas. Na segunda noite, ele já se confortou com menos pancadinhas. Depois de apenas três noites, Quincy já dormia melhor, porque desenvolvera uma técnica ndependente para se acalmar: ele começou a chupar o dedo. À noite, emitia sons parecidos com os do Pato Donald, mas, durante o dia, era um menininho muito mais feliz.
Se você seguir o caminho que sugiro para o mundo dos sonhos, o momento S do E.A.S.Y., o único auxílio necessário para a maioria -dos bebês será a associação positiva com o sono. A repetição da jornada leva a uma sensação de segurança e previsibilidade. Você ficará surpresa com a rapidez com a qual seu bebê aprende as capacidades de que precisa para o sono sensível. Ele também apreciará a hora de dormir, pois verá o sono como uma experiência revigorante e agradável. é claro que há situações especiais, como o excesso de cansaço, a dor causada pelo nascimento dos dentes ou os estados febris (veja as páginas 215-7). Porém, essas são as exceções, e não a regra.
Lembre-se, também, de que o bebê precisa apenas de vinte minutos para adormecer, por isso nunca tente apressar as coisas, alterando ou acelerando o processo natural dos três estágios. Assim, se o bebê for perturbado durante o terceiro estágio- digamos, por um som alto, um cachorro latindo ou uma porta batendo -, o estímulo o despertará e você terá de começar tudo de novo. Não é diferente de quando, por exemplo, um adulto está quase adormecendo e o telefone toca, quebrando o ritmo do processo; se a pessoa fica nervosa ou estimulada, é difícil chegar ao sono do ponto em que foi interrompido. O mesmo acontece com o bebê. Se algo similar ocorrer, ele ficará naturalmente irrequieto, e o ciclo deve ser reiniciado sendo necessários outros vinte minutos para ele adormecer.
Quando Você Perde a "janela"
No começo, quando você ainda não conhece direito o choro e a linguagem corporal de seu bebê, é compreensível que não perceba que ele já está no terceiro bocejo. Isso não importa muito quando você tem um bebê Anjo ou um bebê Livro-texto; um pouco de conversa os acalma rapidamente. Mas, em especial com os bebês Sensíveis, e às vezes com os Enérgicos ou Irritáveis, você precisa ter alguns truques na manga para o caso de perder o Estágio 1 (a Janela), porque nesse ponto, o bebê já está excessivamente cansado. Também é preciso se preparar para um ruído eventual que o desperte, interrompendo o processo natural do sono; se ele estiver muito angustiado, precisará de sua ajuda.
Primeiro, quero dizer o que você nunca deve fazer nessas situações: não o balance ou o agite. Nunca ande com ele pelo quarto ou o embale em demasia. Lembre-se de que ele já está superestimulado: ele está chorando porque já está farto e o choro é a sua maneira de bloquear o som e a luz. Portanto, não faça nada que o deixe ainda mais esperto. Além disso, geralmente é assim que os maus hábitos se desenvolvem; a mãe ou pai andam com o bebê no colo ou o acalentam até que ele durma. Quando ele já pesa 7 quilos ou mais, os pais tentam fazê-lo dormir sem esses acessórios. O bebê então começa a berrar, pois é a sua forma de dizer: "Ei, pessoal, não façam as coisas assim. Vocês costumavam me embalar ou andar comigo até eu dormir".
Para evitar esses equívocos, aqui seguem alguns conselhos para ajudar seu bebê a se acalmar e a bloquear o mundo externo.
Envolva o bebê em um cobertor. Bebês não gostam de espaços muito abertos. Além disso, eles ainda não têm consciência dos braços e das pernas; quando muito cansados precisam ser imobilizados, porque quando sentem seus membros agitados podem ficar assustados ou distraídos - na percepção deles, é como se outra pessoa estivesse produzindo aqueles movimentos -, e essa experiência estimula ainda mais seus sentidos, já sobrecarregados. Envolver o bebê em um cobertor, uma das técnicas mais antigas de auxílio ao sono, pode parecer fora de moda; porém, até mesmo as pesquisas modernas confirmam os benefícios desse procedimento. Para fazê-lo de modo adequado, dobre o canto de um cobertor quadrado, formando um triângulo. Coloque o bebê sobre o cobertor, posicionando seu pescoço na altura da dobra do cobertor. Dobre um dos braços do bebê sobre o peito, em um ângulo de 45 graus, e atravesse um dos cantos do cobertor sobre o corpo, sem apertar muito. Faça a mesma coisa do outro lado. Eu sugiro que o bebê seja envolvido em cobertor nas primeiras seis semanas; depois da sétima, quando já está tentando colocar as mãos na boca, ajude-o: deixe os braços dele dobrados e as mãos livres e perto do rosto.
Tranquilize o bebê. Faça seu bebê entender que você está ali para ajudar. Dê tapinhas nas costas dele, em ritmo cadenciado, imitando o batimento cardíaco. Você também pode adicionar um murmúrio, tentando imitar o que ele provavelmente escutava no útero. Mantenha a voz baixa e calma e murmure no ouvido dele: "Está tudo bem" ou "Você está apenas indo dormir". Enquanto o coloca no berço, se estiver dando tapinhas nas costas dele, não pare; se estiver cantando uma canção, continue - isso facilita a transição.
Bloqueie os estímulos visuais. O estímulo visual - luz, objetos móveis -distrai o bebê cansado, especialmente o bebê Sensível. É por isso que escurecemos o quarto antes de colocar o bebê no berço, mas, para alguns, a penumbra não é suficiente. Se o bebê já estiver deitado, coloque sua mão sobre os olhos dele, sem encostar na pele, apenas para bloquear os estímulos visuais. Se ele estiver no colo, não se mexa muito e encaminhe-se para uma área com iluminação suave ou, então, se ele estiver muito agitado, entre em um quarto totalmente escuro.
Não se desespere. Quando o bebê está muito cansado, o relaxamento torna-se difícil. Ê necessária uma imensa paciência e uma providência prática, especialmente se o bebê já tiver adquirido um mau hábito.
O bebê está gritando; os pais tentam lhe dar tapinhas nas costas; ele chora ainda mais alto. Quando superestimulados, os bebês tendem a chorar sem parar, até que os gritos de "Eu estou exausto!" atinjam o ápice. Então, eles param por um momento e começam tudo de novo. Em geral, os bebês passam três vezes por esse processo antes de finalmente se acalmarem. Contudo, no meio da segunda vez, os pais já não aguentam mais. Desesperados, recorrem a todas as soluções que conhecem: pegam o bebê no colo, tentam fazê-lo mamar, sacodem-no.
O problema é que, mesmo que vocês tenham perdido a calma, o bebê continua precisando de ajuda para dormir. Não demora muito para ele se tornar dependente de um acessório, - algumas repetições bastam para imprimir um comportamento em sua memória. Se você começou do modo errado, a sequência de repetições reforçará o comportamento negativo. Eu costumo receber telefonemas com perguntas sobre problemas de sono quando os bebês já pesam mais de 3 quilos e já não é tão fácil ficar com eles no colo. Os maiores problemas se manifestam perto da sexta ou oitava semana. Sempre afirmo aos pais que me procuram: "Vocês precisam entender o que está acontecendo e assumir a responsabilidade pelos maus hábitos que estimularam". Então, vem a parte difícil: ter a convicção e a perseverança de ajudar o bebê a aprender uma forma nova e melhor para dormir.
Vale a Pena Repetir Isto:
INDEPENDÊNCIA NÃO É NEGLIGÊNCIA!
Jamais deixo um bebê chorando. Pelo contrário, eu me considero a voz daquele bebê. Se não o ajudar, quem poderá traduzir suas necessidades? Ao mesmo tempo, não concordo em que o bebê seja pego no colo ou confortado depois de ter sua necessidade satisfeita. No momento em que ele se acalma, coloque-o no berço. Assim, você dará a seu bebê o presente da independência.
Dormindo a Noite Toda
Não seria possível escrever um capítulo sobre o sono sem discutir a partir de que idade os bebês começam a dormir a noite toda. No final deste capítulo, você encontrará uma tabela que indica o que esperar, em geral, de um bebê nos diferentes estágios do desenvolvimento - lembre-se de que são apenas orientações rudimentares, baseadas em probabilidades estatísticas; somente os bebês Livro-texto apresentam desenvolvimento correspondente a elas (e por isso mesmo receberam tal denominação). Não há nada de "errado" com um bebê cujos hábitos de sono não atendem a essa tabela à risca; ele é apenas diferente de outros bebês.
Comecemos a discussão lembrando que o "dia" do bebê também tem 24 horas. Ele não sabe a diferença entre o dia e a noite, por isso a ideia de dormir a noite toda não significa nada para ele. O sono noturno ininterrupto é algo que você deseja (e precisa) que ele faça. Não é uma ocorrência natural; você terá de treiná-lo para isso, ensiná-lo que existe diferença entre o dia e a noite. Veja a seguir os conselhos que costumo dar aos pais em relação a esse aspecto.
Adote o princípio: "Roubar de Pedro para pagar a Paulo". Não há dúvidas de que manter o bebê na rotina E.A.S.Y. o auxilia a dormir a noite toda mais rápido, porque o E.A.S.Y. é uma rotina estruturada e, ao mesmo tempo, flexível. Espero que você registre todas as mamadas e sonecas do bebê, para compreender melhor as necessidades dele. Se, por exemplo, ele teve uma manhã particularmente agitada e dormiu meia hora a mais, invadindo o horário reservado à próxima mamada, você talvez não percebesse nem tentasse acordá-lo sem a ajuda do diário. De qualquer modo, você sempre deve usar o bom senso. Durante o dia, nunca deixe o bebê dormindo mais do que um ciclo de mamada - em outras palavras, não mais do que três horas -, porque esse tempo será descontado do sono noturno. Garanto que qualquer bebê que tenha seis horas de sono ininterrupto durante o dia não dormirá mais do que três horas à noite. Por isso, se o seu bebê costuma fazer isso, você pode estar certa de que o "dia" dele se transformou em noite. A única forma de acostumá-lo novamente ao sono noturno é acordá-lo - roubando algumas horas de Pedro para pagar a Paulo, ou seja, adicionando as horas "roubadas" do dia ao sono noturno.
Encha o tanque do bebê. Embora não seja nada sofisticada, essa expressão traduz bem a ideia: encher o estômago do bebê para fazê-lo dormir a noite toda. Para isso, quando o bebê já tem 6 semanas de idade, eu sugiro duas práticas: a mamada quantificada e aquela à qual chamo mamada dos sonhos. Primeiro, alimenta-se o bebê duas horas antes do horário de dormir; depois se oferece a mamada dos sonhos, antes de os pais irem para a cama. Por exemplo, você dá uma mamada ao bebê (no seio ou na mamadeira) às 6 ou 8 da noite e a mamada dos sonhos às 10 e meia ou 11 horas. A mamada dos sonhos deve ser dada, literalmente, com o bebê dormindo. Em outras palavras, você pega bebê no colo, encosta a mamadeira ou o seio no lábio inferior dele e o deixa mamar, tomando o cuidado de não acordá-lo. Quando ele terminar, não precisa fazê-lo arrotar - os bebês geralmente estão tão relaxados durante essa mamada que não engolem ar. Não fale nada nem troque a fralda, a menos que esteja suja. Com essas duas técnicas de "encher o tanque", a maioria dos bebês consegue dormir durante a noite toda, porque tem calorias suficientes por mais cinco ou seis horas.
DICA: Peça ao papai para dar a mamada dos sonhos. A maioria dos homens já está em casa nesse horário e adora tal atividade.
Dê ao bebê uma chupeta. Se você não permitir que se transforme em um acessório, a chupeta pode ser muito útil para desacostumar o bebê da mamada noturna. Se o bebê já pesa 4,5 quilos e está consumindo pelo menos 700 ou 850 ml durante as mamadas diurnas- ou está sendo amamentado entre seis e oito vezes por dia (quatro ou cinco vezes no período diurno e duas ou três no noturno), ele não precisa de uma mamada noturna adicional. Se, depois de todas as mamadas, ele ainda estiver acordado, aproveitará a oportunidade da mamada extra para a estimulação oral. É nesse momento que o uso prudente da chupeta vale a pena. Se o seu bebê demora vinte minutos para mamar à noite, e depois acorda chorando para novamente mamar, mas mama por apenas cinco minutos, não chegando a tomar 30 ml de leite, dê a ele a chupeta. Na primeira noite, ele provavelmente ficará acordado por todo o período de vinte minutos com a chupeta na boca, antes de dormir novamente. Na noite seguinte, esse período já cai para dez minutos. Na terceira, ele fica um pouco inquieto durante o sono no momento em que normalmente acordaria para mamar. Se ele acordar, dê a chupeta. Em outras palavras, você está substituindo a estimulação oral da mamadeira ou do seio pela estimulação oral da chupeta. Finalmente, ele não acordará mais.
Foi exatamente isso que aconteceu com o bebê de Julianna, Cody. Ele ja pesava 6,7 quilos e a mãe, depois de observá-lo com cuidado, percebeu que a mamada das 3 da manhã havia se transformado em um hábito de conforto: Cody acordava e sugava a mamadeira apenas por dez minutos e depois voltava a dormir. Quando telefonou para mim, Julianna pediu que eu fosse até sua casa: em primeiro lugar, para verificar se a análise dela estava correta (embora, depois de tudo que ela contara, eu já soubesse que sim) e, em segundo lugar, para ajudá-la a impedir que Cody acordasse àquela hora. Eu passei três noites com a família. Na primeira, tirei o bebê do berço e, em vez da mamadeira, dei-lhe uma chupeta, a qual foi chupada por dez minutos. Na próxima noite, eu o ergui do berço e dei novamente a chupeta, desta vez usada por apenas três minutos. Na terceira noite, o bebê fez alguns ruídos de inquietação quando faltavam 15 minutos para as 3 horas, mas não chegou a acordar. Tudo certo. Dali em diante, Cody começou a dormir até as 6 ou 7 horas da manhã.
Não seja precipitada. Mesmo quando estão bem, os bebês dormem de forma irregular (veja o quadro "O Sono do Bebê", na página anterior). E por essa razão que não é aconselhável responder a cada ruído que ele fizer. Na realidade, sempre sugiro aos pais que joguem fora aquelas malditas babás eletrônicas que exageram todos os murmúrios e choros do bebê. Esses monitores transformam os pais em pessoas alarmistas e desnecessariamente preocupadas! Como repeti durante todo este capítulo, existe uma linha tênue entre responder e salvar. O bebê cujos pais dão respostas (reações adequadas, na medida certa) torna-se uma criança segura, que não tem medo de se aventurar. O bebê que é sempre salvo pelos pais (reações precipitadas e desnecessárias) começa a duvidar de sua própria capacidade e nunca desenvolve a força e a habilidade necessárias para explorar o mundo ou para sentir-se confortável nele.
Distúrbios Normais do Sono
Deixe-me terminar este capítulo alertando que, independentemente de tudo o que já foi escrito, alguns distúrbios de sono são inevitáveis. Não é incomum que os bebês - mesmo aqueles que dormem bem - passem por períodos de agitação e de dificuldade para adormecer.
Aqui estão algumas dessas situações.
Quando os alimentos sólidos são introduzidos na dieta. Os bebês podem apresentar maior formação de gases quando começam a ingerir alimentos sólidos, o que, compreensivelmente, perturba a qualidade de seu sono. Verifique com o pediatra quais alimentos você deve introduzir na dieta do bebê e quando. Pergunte quais deles podem causar gases ou alergia. Faça um registro minucioso de todos os alimentos que introduz na dieta do bebê; assim, se qualquer problema ocorrer, o pediatra poderá estudar o histórico alimentar de seu filho.
Quando o bebê começa adquirir controle dos movimentos amplos. O bebê que está aprendendo a controlar seus movimentos geralmente sente muita dormência nos membros e nas articulações. Você com certeza já experimentou fenômeno semelhante quando se exercita muito após um longo período de vida sedentária. Mesmo depois de os membros pararem de se movimentar, o nível energético e a circulação sanguínea permanecem estimulados. O mesmo ocorre com o bebê: ele não está acostumado ao movimento. Às vezes, quando se torna habilitado para movimentos mais amplos, o bebê entra em posições das quais não consegue sair, e isso também pode perturbar seu sono. Ele pode ainda acordar confuso por estar em uma posição muito estranha. Nestes casos, vá até o quarto e acalme-o com um murmúrio rítmico: "Hum... hum... hum... Está tudo bem".
Quando o bebê passa por um impulso do crescimento. Durante um impulso do crescimento (veja a página 133), o bebê às vezes acorda com fome. Alimente-o nessa noite, mas dê mais comida durante o dia seguinte. Um impulso do crescimento pode durar até dois dias, mas, se você aumentar a quantidade de calorias, geralmente o distúrbio do sono é eliminado.
Quando os dentes estão nascendo. Se for apenas a erupção dos dentes, e não outro problema, o bebê costuma babar, sua gengiva fica vermelha e inchada e, às vezes, ele tem um pouco de febre. Um dos meus remédios caseiros favoritos é molhar um pedaço de tecido, colocá-lo no freezer e, quando está congelado, permitir que o bebê o sugue. Pessoalmente, não gosto dos produtos industrializados (que você compra e depois congela), porque não sei que tipo de líquido há dentro deles. Na Inglaterra, existem uns biscoitos duros, os Farleys Rusks, que derretem e somem; eles são fantásticos, seguros e podem ser encontrados em algumas lojas de produtos importados. Eu gosto mais do Motrin Infantil do que do Tylenol Infantil, porque já observei que o efeito do primeiro é mais longo.
Quando a fralda está suja. Uma das mães com quem trabalhei chama a ocorrência de "cocôs poderosos", e a maioria dos bebês acorda quando eles acontecem. Às vezes, ficam até mesmo assustados. Troque a fralda em um ambiente de penumbra, para impedir que o bebê desperte totalmente. Acalme-o e coloque-o de volta para dormir.
DICA: Quando o bebê acordar no meio da noite, seja qual for o motivo, nunca brinque muito com ele ou seja demasiadamente simpática. Seja amável e cuide do problema mas tome o cuidado de não dar ao bebê a ideia errada de já ser hora de acordar, a não ser que você deseje que ele acorde todas as noites para brincar...
Algo que tento lembrar aos pais que se preocupam com o sono de seu bebê é que o surgimento de um problema eventual de sono não é sinônimo de um distúrbio crônico. Se os pais conseguirem ver a situação como um todo, diminuirão a tendência de fazer uma tempestade num copo d'água por causa de algumas noites em claro. Com certeza, é uma questão de sorte: alguns bebês simplesmente dormem melhor que outros. Mas, seja qual for o tipo de seu bebê, pelo menos vocês precisam descansar o suficiente para conseguir cuidar da vida.
