A mesa do passado, presente e futuro
Recentemente fui desafiado por um conselheiro a colocar numa 'folha de papel' nomes e situações da minha vida com as quais eu precisava me reconciliar. Não sabia bem como começar, então decidi tomar como ponto de partida o versículo 5 do Salmo 23: "preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos".
Após reconhecer o cuidado de Deus sobre a minha vida (a água fresca, os pastos verdejantes) percebi que Deus tem estado comigo quando trilho por caminhos escuros... neste momento minha relação com Ele se estreita (inicialmente ocorre na terceira pessoa [Ele] e no vale da sobra da morte se transforma em TU).
Após emergir do outro lado do vale surge a figura da mesa. Sempre ouvi que este versículo tem relação com o banquete da vitória promovido pelo rei conquistador...
Uma tradução alternativa de um místico judeu me fez repensar muito este versículo: na presença da adversidade Tu me preparas um banquete. Reb Zalman Schachter diz que é inútil culpar outras pessoas pelos nossos problemas e interpreta este versículo como um convite a todos os meus adversários para um banquete imaginário. Neste banquete ele agradece aos adversários pelas mudanças que eles promoveram nele por causa da sua oposição e oferece uma oportunidade de reconciliação.
Assim, decidi montar alguns cenários particulares em que poderia aplicar isto.
Cenário 1 Deus me permite convidar alguém para o banquete. Quem eu escolheria?
- Pensei em algumas pessoas que eu gostaria de pedir perdão e outras que eu gostaria de perdoar (mesmo que elas não tenham se desculpado);
- Pensei também em convidar algumas pessoas que eu gostaria de reatar a amizade após ter o relacionamento abalado (por circunstâncias que nem são tão ofensivas assim, mas que esfriaram a amizade);
Cenário 2 Se o banquete é oferecido pelo Senhor-que-é-meu-pastor, Ele tem o direito de convidar quem Ele quiser para se encontrar comigo face-a-face.
- Neste cenário eu tentei enumerar algumas pessoas que 'eu imagino' ter m bom relacionamento comigo, mas que, de alguma forma possam guardar alguma ressalva a meu respeito;
- Também neste cenário ficou listado algumas pessoas com as quais definitivamente eu não quero mais me relacionar... pessoas que me ofenderam [a mim ou pessoas próximas a mim] com as quais eu definitivamente não convidaria pra nada.
Cenário 3 E se neste banquete também fosse possível se sentar consigo mesmo... uma refeição frente a frente com o Fabrício de 17 ou 25 anos...
- Comecei a listar atos imaturas que eu cometi na minha juventude e para os quais eu nunca me perdoei;
Cenário 4 Neste cenário eu fico no outro lado da mesa, na qualidade de 'inimigo' ou 'adversário' de alguém.
- Listei algumas pessoas e situações nas quais eu me coloquei em oposição a alguém; Entendi que preciso lidar com as injustiças que eu sofro e também com as que eu mesmo pratico.
Cenário 5 Neste cenário eu imagino se o banquete será 'público' ou 'privado'... no primeiro caso outras pessoas podem testemunhar o que ocorre à mesa... a forma como eu decido agir com meus inimigos serve de testemunho do meu caráter diante da comunidade dos viventes;
- E se... o banquete fosse privado? Só eu e meu adversário? Eu me preocuparia com o que os outros iriam pensar de mim? Alteraria a minha conduta com meu adversário... neste ponto, confesso que houve a maior divergência...
Preenchi cada um destes cenários com situações e pessoas da minha própria história e percebi pelo menos duas coisas: A primeira, que cada uma destas situações pode levar um pedaço da minha alma; a segunda, que o Senhor-que-é-meu-pastor promete me devolver a alma caso ela esteja perdida.